quinta-feira, 28 de julho de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 3

Agacho-me perto do homem. Ele me olha rapidamente com o canto dos olhos e logo desvia o olhar. Seu medo cresce, seu coração dispara. Eu ouço todas as batidas. Suas mãos tremem e atrapalham seu serviço. Ele pára. O medo o consome, não há nada o que ele possa fazer. Então, ele se vira, mas não me encara. Olha para o chão e para mim. Eu o observo como um lobo, nutrindo-me de seu pavor. Ele reage, da única forma que poderia: 

_Veio me matar? _Ele pergunta, como se isso fosse algum tipo de defesa. Como se tal pergunta fosse me deixar com algum tipo de pena.

_Não! _Respondo. _Não iriam me chamar aqui para isso.

_Então, chame alguém que o faça. Por favor, vamos acabar logo com isso.

Descrença. O mais comum e um dos mais saborosos sentimentos dos homens. Base de toda sua decadência.
Humanos. Já me esqueci como é ser um.

_Você tem que cumprir alguma tarefa. _Recomeço. _Do contrário, já estaria morto. Está fazendo um pilar de sustentação para uma cúpula. A primeira pergunta é: porque você?

_Eu não sei! O homem que entrou com você me procurou meses atrás. Pediu-me para fazer reformas em sua casa. Sou um artesão, faço isso a vida inteira. Montei uma pequena fábrica de móveis alguns anos atrás. Sou apenas isso, não sei o que ele quer de mim.

O homem se desespera na minha frente. Começa a soluçar e a chorar compulsivamente. Eu o interrompo, querendo saber sua história:

_Contenha-se! _Falo rispidamente. _Continue seu relato.

Ele se assusta, porém, eu esperava uma reação maior. Talvez eu esteja “enferrujado”. Ou, talvez, os tormentos que passou aqui foram tantos que isso não mais o abala. Após alguns segundos, ele retoma:

_Depois da reforma, ele disse que precisaria dos meus serviços em outro lugar. Disse que meu trabalho era magnífico e que somente eu poderia fazer. Eu neguei, pois moro em Minas Gerais, e o serviço era aqui no Rio de Janeiro. Eu não poderia vir assim, de uma hora para a outra. Então, numa noite, quando eu fechava a fábrica... não sei o que aconteceu... eu acordei aqui, neste apartamento, com estes monstros empalhados. Disseram-me para fazer esse pilar, para que ficasse igual aos outros. Eu não quis, gritei que era seqüestro. Então, eles me mostraram monstros piores. Mostraram dentes... meu Deus, eles...

Novamente o homem quis se descontrolar. Fitei-o com um olhar ameaçador, que o fez rapidamente entender o recado. E continuar:

_Você é igual a eles, não é? Você também é um vampiro, não é? Meu Deus, vampiros existem?

_Sim, existem! _Falo! E aguardo. Fico em silêncio por alguns segundos, para que recobre a consciência.

_Ele prometeu poupar minha família!

_Quem? _Pergunto! _O homem que entrou aqui comigo? O que lhe trouxe aqui?

_Não! O outro.

_Deve estar se referindo a Malberon! Se ele disse isso, realmente sua família será poupada. Basta fazer um excelente trabalho. E anime-se, poucos humanos tem o privilégio de se encontrar com Malberon. Ele é o primeiro vampiro do mundo.


CONTINUA....

quarta-feira, 27 de julho de 2011

ATÉ QUE ENFIM UMA LEITURA INTELIGENTE

NÃO DEIXE DE LER. ATÉ QUE ENFIM UMA LEITURA INTELIGENTE. POR MUITO TEMPO BUSQUEI QUADRINHOS ADULTOS, QUE DESAFIASSEM MEUS SENTIDOS E LÓGICA. ENCONTREI AQUI. DIVERSAS HISTÓRIAS, DIVERSOS ARCOS.


VERTIGO.... PARABÉNS
http://web.hotsitepanini.com.br/vertigo/

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 2

Atravessamos todo o corredor sem mencionarmos nenhuma palavra. Apenas observando as diversas cúpulas disposta em diagonal umas as outras, cada uma com um exemplar de uma espécie diferente. Minotauro, anão, elfo, kobold. Alguns foram muito difíceis de encontrar.
Ao fundo do corredor, após a última cúpula, noto um homem sentado no chão. Em suas mãos, uma espátula e outros instrumentos espalhados ao redor. Seu semblante é triste, preocupado e desiludido. Seu cheiro é forte, mescla de suor e medo. Posso sentir o sal de suas lágrimas ressequidas, já absorvidas pela pele de seu rosto.
O rapaz que me acompanha nos deixa a sós.  Aproximo-me do homem e percebo que ele está à frente da parede, manuseando uma espécie de pilar, quase da altura dos outros do corredor. Manuseando, não. Na verdade, ele o está esculpindo, de modo muito similar aos que sustentam as cúpulas. Seus dedos estão desgastados pelo atrito com o concreto. Algumas das unhas estão quebradas, mas ele parece não se importar. Quer terminar o trabalho, nem nota minha presença.
Surpreendo-me.
Um homem, um humano, fazendo meu trabalho? Ampliando minha obra? E porque mais uma cúpula? Teria Malberon encontrado mais uma espécie? Como eu poderia desconhecer?


CONTINUA....


terça-feira, 12 de julho de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 1

É sempre assim que começa. Por séculos, sempre foi desta maneira. Mas nunca antes neste local. Nunca uma reunião ocorreu no covil do primeiro vampiro do mundo.
Estou no corredor que dá acesso à porta de entrada do apartamento. Um homem está parado, olhando para mim. Um rapaz de aparência jovem, de ombros largos e face fechada, vestido em um terno azul-escuro muito elegante. O cabelo é raspado e quase reluz com a luz do corredor. Ele me cumprimenta, acenando com a cabeça, sem dizer nenhuma palavra. Já aguardava minha chegada. Então, ele se vira e abre sutilmente a porta, revelando um imenso apartamento. Na entrada, um enorme aposento, de padrão rústico, com tons amarronzados nas paredes e móveis antigos. Nos cantos, estátuas de muitas culturas dividem lugar com armaduras medievais. Diversas estantes com artefatos e objetos, igualmente antigos. Cortinas transparentes descem do teto. Almofadas vermelhas se amontoam ao redor de diversas camas espalhadas pelo chão. A iluminação é feita, predominantemente, por velas, em belíssimos e bem trabalhados castiçais.
Todos os que entram pela primeira vez aqui devem fazer a mesma observação que a minha. Todos devem reparar nestes sutis detalhes da decoração.
Completamente antagônica aos costumes desta época.
O rapaz, então, me conduz a um dos cômodos do apartamento, um pouco distante de onde estávamos. Na verdade, não se trata de um cômodo, mas de um singular corredor, extenso, porém estreito, iluminado por um único facho de luz que corre pelo teto, do início até o fim. Nas paredes, dos dois lados, pilares de meio metro de altura ostentam cúpulas de um vidro espesso que quase alcançam o teto, cada um disposto em diagonal ao outro, de modo que quem passe pelo corredor veja um à direita e, passos depois, outro à esquerda e, assim, sucessivamente.
Reflito sobre a forma com que todos os que entram aqui percebem estes detalhes. Acredito que seja exatamente como fora minha observação. Pois fora exatamente assim que planejei este lugar.
Eu nunca havia estado aqui. Mas fui o responsável pela construção deste local, séculos atrás. É o que eu faço, é a minha missão, minha contribuição. Reparo no primeiro pilar, que tem entalhado alguns rabiscos e gravuras de povos primitivos.
“Goblin”!
Está escrito esta palavra, numa pequena placa fixada meio da base do pilar, no antigo e extinto dialeto goblinóide. Fito o interior da cúpula e vejo, empalhada, de corpo inteiro e em pé, a figura de uma daquelas criaturas. Encanto-me, novamente, pela perfeição do meu trabalho. Mesmo após tanto tempo, ainda fica nítido a cor viva de seus olhos, suas grandes orelhas pontiagudas e a tonalidade verde de sua pele. Sinto-me tão bem, que quase esbanjo um sorriso, mas me contenho na frente do rapaz, para não demonstrar nenhum sinal de fraqueza.




CONTINUA.....