terça-feira, 12 de julho de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 1

É sempre assim que começa. Por séculos, sempre foi desta maneira. Mas nunca antes neste local. Nunca uma reunião ocorreu no covil do primeiro vampiro do mundo.
Estou no corredor que dá acesso à porta de entrada do apartamento. Um homem está parado, olhando para mim. Um rapaz de aparência jovem, de ombros largos e face fechada, vestido em um terno azul-escuro muito elegante. O cabelo é raspado e quase reluz com a luz do corredor. Ele me cumprimenta, acenando com a cabeça, sem dizer nenhuma palavra. Já aguardava minha chegada. Então, ele se vira e abre sutilmente a porta, revelando um imenso apartamento. Na entrada, um enorme aposento, de padrão rústico, com tons amarronzados nas paredes e móveis antigos. Nos cantos, estátuas de muitas culturas dividem lugar com armaduras medievais. Diversas estantes com artefatos e objetos, igualmente antigos. Cortinas transparentes descem do teto. Almofadas vermelhas se amontoam ao redor de diversas camas espalhadas pelo chão. A iluminação é feita, predominantemente, por velas, em belíssimos e bem trabalhados castiçais.
Todos os que entram pela primeira vez aqui devem fazer a mesma observação que a minha. Todos devem reparar nestes sutis detalhes da decoração.
Completamente antagônica aos costumes desta época.
O rapaz, então, me conduz a um dos cômodos do apartamento, um pouco distante de onde estávamos. Na verdade, não se trata de um cômodo, mas de um singular corredor, extenso, porém estreito, iluminado por um único facho de luz que corre pelo teto, do início até o fim. Nas paredes, dos dois lados, pilares de meio metro de altura ostentam cúpulas de um vidro espesso que quase alcançam o teto, cada um disposto em diagonal ao outro, de modo que quem passe pelo corredor veja um à direita e, passos depois, outro à esquerda e, assim, sucessivamente.
Reflito sobre a forma com que todos os que entram aqui percebem estes detalhes. Acredito que seja exatamente como fora minha observação. Pois fora exatamente assim que planejei este lugar.
Eu nunca havia estado aqui. Mas fui o responsável pela construção deste local, séculos atrás. É o que eu faço, é a minha missão, minha contribuição. Reparo no primeiro pilar, que tem entalhado alguns rabiscos e gravuras de povos primitivos.
“Goblin”!
Está escrito esta palavra, numa pequena placa fixada meio da base do pilar, no antigo e extinto dialeto goblinóide. Fito o interior da cúpula e vejo, empalhada, de corpo inteiro e em pé, a figura de uma daquelas criaturas. Encanto-me, novamente, pela perfeição do meu trabalho. Mesmo após tanto tempo, ainda fica nítido a cor viva de seus olhos, suas grandes orelhas pontiagudas e a tonalidade verde de sua pele. Sinto-me tão bem, que quase esbanjo um sorriso, mas me contenho na frente do rapaz, para não demonstrar nenhum sinal de fraqueza.




CONTINUA.....

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