segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ZUMBI







Um zumbi ou zombie é uma criatura fictícia que aparece nos livros e na cultura popular tipicamente como um morto reanimado ou um ser humano irracional. Histórias de zumbis têm origem no sistema de crenças espirituais do Vodu afro-caribenhos, que contam sobre trabalhadores controlados por um poderoso feiticeiro.
Esta criatura é um ser humano dado como morto que, segundo a crença popular, foi posteriormente desenterrado e reanimado por meios desconhecidos. Devido à ausência de oxigênio na tumba, os mortos vivos seriam reanimados com morte cerebral e permaneceriam em estado catatônico, criando insegurança, medo e comendo os vivos que capturam. Como exemplo desses meios, pode-se citar um ritual necromântico, realizado com o intuito maligno de servidão ao seu invocador.
A figura dos zumbis ganhou destaque num gênero de filme de terror, principalmente graças ao filme de 1968 "Night of the Living Dead" de George A. Romero.


Vodu
De acordo com os princípios do Vodu, uma pessoa morta pode ser revivida por um sacerdote ou feiticeiro. Zumbis permanecem sob o controle do bokor já que não têm vontade própria. "Zombi" também é outro nome da serpente vodu Iwa Damballah Wedo, de origem do Níger-Congo, é semelhante ao Nzambi palavra kikongo, que significa "deus". Existe também dentro da tradição ocidental africana do Vodu o "astral zumbi", que é uma parte da alma humana, que é capturada por um sacerdote e usada para aumentar o poder do sacerdote. O astral Zombi é normalmente mantido dentro de uma garrafa que o sacerdote pode vender aos seus clientes para dar sorte ou sucesso financeiro. Acredita-se que, após um tempo, Deus tomará a alma de volta o que torna o zumbi uma entidade espiritual temporária. A lenda Vodu sobre o zumbi diz ainda que quem o alimenta com sal vai fazê-lo retornar para o túmulo.
Em 1937, enquanto pesquisava o folclore do Haiti, Zora Neale Hurston encontrou o caso de uma mulher que apareceu em uma aldeia e uma família alegou que ela era Felicia Felix-Mentor, uma parente que havia morrido e sido enterrada em 1907 com idade de 29 anos. Hurston alegou que os rumores se deveram ao uso de uma poderosa droga psicoativa por parte das testemunhas do fato, mas ela foi incapaz de localizar os indivíduos para obter mais informação.
Várias décadas depois, Wade Davis, um etnobotânico de Harvard, apresentou um caso farmacológico de zumbis em dois livros, A Serpente e o Arco-Íris (1985) e Passagem das Trevas: A Etnobiologia do Zumbi do Haiti (1988). Davis viajou para o Haiti em 1982 e, como resultado de suas investigações, afirmou que uma pessoa viva pode ser transformado em um zumbi injetando-se duas substâncias específicas na sua corrente sanguínea (geralmente através de uma ferida). A primeira, chamada pelos nativos de "coup de poudre" (do francês: tiro de pó), inclui a tetrodotoxina (TTX), uma poderosa neurotoxina e freqüentemente fatal encontrada na carne do baiacu (ordem Tetraodontidae). A segundo consiste numa poção com drogas dissociativas tais como a datura. Acredita-se que estas substâncias associadas induzem um estado de morte no qual ficam inteiramente sujeitas às vontades do bokor. Davis também popularizou a história de Clairvius Narcisse, que alegou ter sucumbido a essa prática.
O processo descrito por Davis era um estado inicial de morte, com animação suspensa, seguido pelo re-despertar, normalmente depois de ser enterrado, em um estado psicótico. Davis sugeriu que a psicose induzida por drogas e pelo trauma psicológico de ter sido enterrado, reforçavam as crenças culturalmente aprendidas e levavam os indivíduos a reconstruir sua identidade como a de um zumbi, uma vez que, após a experiência a que eram submetidos, eles passavam a "acreditar" que estavam mortos e não teriam mais outro papel para desempenhar na sociedade haitiana. Segundo Davis, os mecanismos sociais de reforço desta crença serviam para confirmar para o indivíduo a sua condição de zumbi e tais indivíduos passavam a ser conhecidos por passear em cemitérios, exibindo atitudes e emoções deprimidas.
O psiquiatra escocês R. D. Laing destacou ainda a ligação entre as expectativas sociais e culturais e a compulsão, no contexto da esquizofrenia e outras doenças mentais, sugerindo que o início da esquizofrenia poderia ser responsável por alguns dos aspectos psicológicos da "zumbificação".
As afirmações de Davis receberam críticas, particularmente a sugestão de que feiticeiros haitianos possam manter "zumbis" em um estado de transe induzido por drogas por muitos anos. Os sintomas de envenenamento por TTX gama produz dormência e náuseas, podendo levar à paralisia (em particular dos músculos do diafragma), inconsciência e morte, mas não incluem uma marcha rígida ou um transe de morte semelhantes aos encontrados nos zumbis. Segundo a neurologista Terence Hines, a comunidade científica rejeita a tetrodotoxina como a causa deste estado e a avaliação de Davis sobre a natureza dos relatórios dos zumbis haitianos é visto como excessivamente crédula.

África do Sul
Algumas comunidades da África do Sul acreditam que uma pessoa morta pode ser transformada em um zumbi por uma criança pequena. É dito que a magia pode ser quebrada com um sangoma poderoso o suficiente.

Características
Por serem mortos vivos, sua aparência demonstra o efeito do tempo e da morte, possuindo a pele apodrecida e com roupas esfarrapadas, com um cheiro forte e horrível. Normalmente, perdem partes do corpo, como os dentes ou os dedos.
De maneira geral, os zumbis nestas situações são do tipo lentos, letárgicos, cambaleantes e irracionais - "modelo" que se popularizou no filme A Noite dos Mortos-Vivos. Filmes criados já nos anos 2000, porém, trouxeram um novo conceito de zumbis, mostrando-os como mais ágeis, ferozes, inteligentes e fortes que os antigos zumbis do cinema. Estes zumbis mostram-se extremamente mais perigosos, sendo que apenas um deles já constitui grande ameaça para um grupo. Em muitos casos em se tratando destes zumbis "rápidos", os criadores utilizam a premissa de humanos infectados com alguma patogenia, como é o caso no filme Extermínio e no jogo para PCs Left 4 Dead, ao invés de cadáveres reanimados - evitando a "caminhada arrastada dos mortos", presente na variedade de zumbis criada por George A. Romero.
Na série Living Dead, os zumbis começam com pouca inteligência, passando com o tempo a reter algum conhecimento da vida passada e repeti-los sem pensar (como ir para um local importante, ou continuar com uma faca por causa do trabalho de cozinheiro), depois aprendem a usar ferramentas básicas (Diário dos Mortos) e em Survival of the Dead (2010) os zumbis desenvolvem uma maior inteligência sendo capazes de se comunicar, ir atrás de um objetivo, e usar ferramentas de maneiras mais complexas.
Os zumbis se alimentam de pessoas, embora possam aprender a se alimentar de outros seres, como cavalos (filme Survival of the Dead).

Infecção
A origem é sempre variável nas histórias, e muitas já foram criadas. Elas vão das mais óbvias como um vírus natural (a ira colérica no Left 4 Dead e no filme Extermínio) ou um vírus artificial criado em laboratório (série Resident Evil e no filme Planeta Terror), indo até as mais improváveis, como um agente extra-terrestre (como especulado pela imprensa no filme A Noite dos Mortos-Vivos) ou até mesmo uma punição divina (como é sugerido em Madrugada dos Mortos). Por fim, existem ainda os que preferem deixar a causa em aberto, não mencionando palavra sobre a mesma (como no filme Zombieland ou na série The Walking Dead
A infecção espalha-se pela população através do contato agressivo com um zumbi (o que ocorre em praticamente todos os casos), exposição à causa da transformação (citando novamente Planeta Terror à exemplo disto), ou mesmo após qualquer morte, seja ela natural ou acidental (Romero e seus filmes como mais notório exemplo).
A contaminação, em certos casos, pode ainda afetar outros seres vivos que não só os humanos (jogos da série Resident Evil já mostraram toda a sorte de animais zumbificados ou mutacionados pelo vírus, como cães, aranhas, tubarões e até mesmo plantas transformados pelo vírus, sendo que em Resident Evil: Outbreak: File 2 já viu-se um monstruoso elefante zumbificado). Por fim, a causa pode transformar a pessoa em zumbi e não necessáriamente lhe tirar sua consciência, ainda que esta fique gravemente prejudicada.

Eliminação
As obras nos mostram que é possível destruir os zumbis definitivamente danificando-lhes o cérebro ou a estrutura neural, o que pode ser conseguido atirando-lhes na cabeça (como na grande maioria das obras) ou lhes quebrando o pescoço (mais especificamente nos filmes de Resident Evil e na obra literária Orgulho e Preconceito e Zumbis[23] - em certas obras, como nos filmes de George Romero, nem mesmo a decapitação é capaz de exterminar definitivamente um zumbi, uma vez que a cabeça decepada ainda tentará morder).
Apocalipse zumbi

Apocalipse zumbi
Apocalipse zumbi é um cenário hipotético da literatura apocalíptica. Cultuado - e até mesmo aguardado - por muitas pessoas e com base na ficção científica e no terror, a expressão refere-se à uma infestação de zumbis em escala catastrófica, que rapidamente transformaria esta espécie na dominante sobre a Terra. Tais criaturas, hostis à vida humana, atacariam a civilização em proporções esmagadoras, impossíveis de serem controladas por forças militares, mesmo com os recursos atuais à disposição.
Em algumas hipóteses, vítimas de um ataque de zumbi também transformariam-se nestas criaturas se sofressem uma mordida ou arranhão de um infectado. Em outras, o vírus pode ser transmissível através do ar. Finalmente, existe ainda o quadro mais caótico: Todo o ser humano que morre, seja lá qual for a causa, torna-se um morto-vivo. Nestes cenários, os zumbis caçam seres humanos para alimentarem-se, sua mordida causando a infecção que faz com que um sobrevivente de ataque também torne-se um zumbi posteriormente. Isto rápidamente tornaria-se uma infestação absolutamente incontrolável, com o pânico causado pela "Praga Zumbi" acarretando no rápido colapso do conceito de civilização como hoje a conhecemos. Em pouco tempo, a existência de vida humana no planeta seria reduzida a poucos grupos de sobreviventes - nômades ou isolados - buscando por alimento, suprimentos e lugares seguros num mundo pré-industrial, pós-apocalíptico e devastado.
O conceito, nascido na década de 1960, ganhou grande popularidade ao longo dos anos, servindo de tema para incontáveis filmes, seriados, livros, histórias em quadrinhos, videogames e outras obras de variadas mídias. Como já mencionado, há até mesmo os que acreditam na concretização de tal cenário, e preparam-se para sua suposta chegada.

Zumbi filosófico
Um zumbi filosófico é um conceito usado na filosofia da mente, campo de pesquisa que examina a associação entre pensamento consciente e o mundo físico. Um zumbi filosófico é uma pessoa hipotética que não possui consciência plena mas tem a biologia ou o comportamento de um ser humano normal. O termo é usado como uma hipótese nula nos debates filosóficos sobre o tema problema corpo-mente. O contexto filosófico do termo zumbi foi cunhado pelo filósofo David Chalmers na metade da década de 1990.
[editar]Ativismo social

Zombie Walk
Zombie Walk é uma flash mob composta por um grande grupo de pessoas que se vestem de zumbis. Geralmente caminhando ou correndo por grandes centros urbanos, os participantes organizam uma rota através das ruas da cidade, passando por shoppings, parques e outros locais com grande público.
Alguns fãs de zumbi continuam a tradição de George A. Romero de usar os zumbis como um comentário social. Esses eventos, divulgadas principalmente de pessoa a pessoa, são regularmente organizadas em alguns países. Normalmente são organizados como uma performance de arte surrealista mas ocasionalmente são usadas como parte de um protesto político único.

VEJA, TAMBÉM, COMO SÃO OS ZUMBIS DO LIVRO O IMORTAL KALYMOR E, PRINCIPALMENTE, SAIBA MAIS SOBRE HANS KALYMOR (UMA NOVA DEFINIÇÃO DE ZUMBI???)

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 6





O homem no chão fica perplexo. Percebi que havia parado com seu trabalho, enquanto eu recordava essa passagem de minha anterior vida humana. O jovem vampiro, segurando o note book, quase fica boquiaberto. Mesmo para ele, em sua recente condição imortal, ainda é difícil compreender certos aspectos de nosso mundo. Deve estar pensando em como será seu mundo, daqui a 200 anos, e em como irá relatar, aos próximos vampiros que encontrar, como era o mundo de hoje. Como irá relatar como foi sua transformação. O seu último dia de Sol, o dia mais importante.
Mas, não é tempo para essas reflexões. Tenho que me concentrar no meu trabalho. Em observar novamente o corredor e os escritos no livro, para tentar encontrar a falha. Se houver alguma. O erro que fez com que faltasse uma cúpula. Deixo, então, os passos me guiarem pelo corredor, deslizando como pincéis retocando o quadro da história. E as cúpulas vão revelando aos meus olhos as espécies, cada qual com suas distintas peculiaridades.
As horas, então, voam. Analiso cada minúcia de cada cúpula como um astrônomo visualiza as estrelas. Góblin, centauro, minotauro, anão, elfo, kobold, ogro. Outras espécies foram encontradas apenas deste lado do mundo, no mundo novo. Como um ser de pele lisa e negra, braços compridos e mãos ásperas que escorriam um fluido pegajoso, que os auxiliavam a andar por entre os galhos das densas florestas, visto que tinham somente um único membro inferior. Cultivados aqui nas lendas do “saci”. Em outra cúpula vejo as belas mulheres do mar, com aparência mais bela que a mais bela das humanas. E com a parte inferior do corpo coberto por escamas, que se continuavam até formarem uma nadadeira. Cultivadas, aqui, nas lendas, como sereias. Mais um passo adiante, contemplo um ser similar ao ogro, porém, que vivia somente em terras gélidas, com o corpo recoberto por diversas camadas de pêlos e com os pés desproporcionalmente grandes. Que lhes deu a origem do nome “Pé-grande”.
Em outro cômodo, um imenso cômodo, estão agrupados, um de cada exemplar, diversos tipos de dragões. Porém, não vou percorrer aquele. Sei que estão todos ali, menos um. Malberon não possui um Deus-Dragão. O último foi extinto na batalha de maior importância na história deste planeta. Morto pelo Cavaleiro do Fogo Ismael e seu grupo, em Nostrades, a capital do reino de Yarkan. Claro que eu não vivia naquela época. Isso ocorreu séculos antes de meu nascimento.

_Minha revisão, então, foi concluída! _Digo ao jovem vampiro. _Não encontrei nenhuma falha, tanto no livro como nas cúpulas. A coleção permanece tal qual como eu havia deixado.

Então, um medo crescente se apossou de mim. O medo da dúvida, da incerteza.

_O que está faltando? _Questiono em voz alta, como se o jovem pudesse me responder. _E meu medo me tomou por completo quando, de surpresa, o homem sentado à frente da recém terminada nova cúpula se pronunciou, erguendo um pequeno objeto com ambas as mãos:

_Onde eu fixo esta placa? _Falou, mostrando para mim o objeto. Que me feriu os olhos como se fosse um crucifixo ostentado pelo mais crente dos cristãos.
O vampiro notou meu estado perplexo. E questionou.

_O que diz a placa?

Estava escrito em um antigo dialeto élfico. Ele jamais entenderia. Então, leio em voz alta e pausadamente:

_Ali diz... vampiro!

Concluo, então, minha observação. Perturbado, pois... estaria nossa espécie, também, condenada a extinção?






 
TERMINA AQUI MAIS UMA HISTÓRIA DE "INTERLÚDIOS", QUE CONTA FATOS PARALELOS AO LIVRO O IMORTAL KALYMOR. 
AGUARDEM NOVAS HISTÓRIAS. PROCUREM PELAS ANTERIORES NAS OUTRAS PÁGINAS DESTE BLOG, NAS POSTAGENS MAIS ANTIGAS. 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 5





_Chovia naquela tarde de domingo! _Falo para os dois no corredor, enquanto observo o góblin empalhado na cúpula a minha frente. _ Eu tinha 46 anos naquela época. Calvo na parte de cima do crânio, mas com cabelos grisalhos escorridos nas laterais e atrás. As sobrancelhas sempre foram grandes e voltadas para cima, nariz pontudo e maças do rosto e queixo proeminentes. Naquele final de tarde chuvoso não dei importância para isto. Mas, na parte da noite, sim. Pois, a partir daquela noite, eu teria essa aparência para sempre.
Isso faz mais de 200 anos.
Eu estava na igreja. Trabalhava como restaurador. Adorava pintar anjos, concertar esculturas. Eu tinha uma habilidade incrível. Gostava de ficar sozinho na igreja e, como chovia muito naquele dia, eu sabia que ficaria sozinho. Poucas pessoas entraram naquele dia e, na parte da noite, somente eu, as velas, os pincéis e os anjos. Alguém os tinha pintado antes de mim, mas eu me sentia nobre com a possibilidade de renová-los. De eternizá-los. Meu trabalho não era muito conhecido, mas chamou a atenção de alguém.
Ele entrou à noite! A chuva castigou suas vestimentas, mas ele pareceu não se importar. Começamos a conversar. Perguntou-me sobre o prazer que eu sentia de poder manter para sempre as pinturas, os quadros, as esculturas. E sobre a frustração de ver a vida passar. A frustração de conseguir eternizar minha obra, mas não conseguir o mesmo comigo.
Respondi que nunca havia pensado naquilo. Mas, analisando bem, era uma surpreendente contradição. O dom de preservar objetos, por longos anos ou até mesmo séculos, e notar o desgaste natural e irreversível de mim mesmo. Dura realidade incoerente.
Ele disse que podia fazer algo em relação aquilo. Que se tratava de uma espécie peculiar de “restaurador”.  Fiquei assustado, num primeiro momento. Respondi que não queria nada dele e pedi para que fosse embora, pois eu tinha que continuar meu trabalho. Ele disse que eu não tinha opção. Que meu dom era importante demais para se perder pelas linhas dos anos.
Num ataque rápido e voraz, então, essas mesmas linhas dos anos, simplesmente, se estagnaram. E eu recebi a mesma eternidade de meus objetos retocados...


CONTINUA....

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 4

O homem emudece. Fica ainda mais assustado pelo fato de ter visto Malberon e saber, agora, quem ele era. Instantes depois, ele retoma nossa conversa, querendo, talvez, saber um pouco mais de sua atual situação:

_Você quem fez os outros pilares?

_Sim, muito anos atrás.

_Ele disse que você viria, mas sua tarefa era outra.

Ouço passos no início do corredor. O rapaz de terno entra, trazendo um note book e uma pequena cadeira. Levanto-me e viro para ele, deixando o homem sentado no chão. O rapaz, então, dirige-me a palavra:

_Não deveria falar tanto ao nosso respeito!

_Não há nada a temer. Ele vai estar morto ao final disto!

O homem no chão ouve o que eu falo. Pega lentamente seu material e, trêmulo, recomeça de onde havia parado.
O rapaz de terno senta na cadeira, abre o note book, apoiando-o nas pernas. Olho para as cúpulas, e percebo minha tarefa.

_Malberon deseja que eu faça o registro? O catálogo desta nova espécie? Mas qual espécie seria?
Devo analisar, então, se deixei algum erro. Alguma falha, algum registro pendente. Eu era o responsável por tudo isso, desde os pilares, as cúpulas, a conservação dos corpos das espécies, suas história, suas línguas. Mas, se ele pediu pra que alguém mais fizesse isso, deve ser porque tem alguma pressa. E quando nós imortais temos pressa de algo, é porque este algo é muito importante.

_Faça os registros no computador. _Digo ao rapaz. _Mas, preciso conferir o registro dos livros.

O rapaz se levanta e vai para um outro cômodo. Instantes depois, retorna, com um livro antigo. Eu o escrevi, séculos atrás. Um registro completo do que tem neste corredor. E, isso significa, um registro completo de diversos seres que habitaram diversas eras do mundo.
Não sei por que vou conferir o que fiz. Um grande poder dos imortais é a capacidade de não esquecer nada. Sei exatamente tudo o que está escrito aqui. Assim como também sei, exatamente, tudo o que está escrito em todas as coisas que li desde a minha transformação. Mesmo assim, eu tinha, até então, a certeza de que meu trabalho com as cúpulas estava concluído. Não há mais nenhuma espécie a catalogar. Devo ter errado em algo ou Malberon encontrou algum novo exemplar?



Com o livro aberto, então, caminho em direção ao início do corredor. O rapaz novamente abre o note book, o homem continua esculpindo o pilar. Paro na frente da primeira cúpula. Começo a dedilhar as páginas do livro. E sinto como se dedilhasse as páginas de minha própria vida.


CONTINUA....

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 3

Agacho-me perto do homem. Ele me olha rapidamente com o canto dos olhos e logo desvia o olhar. Seu medo cresce, seu coração dispara. Eu ouço todas as batidas. Suas mãos tremem e atrapalham seu serviço. Ele pára. O medo o consome, não há nada o que ele possa fazer. Então, ele se vira, mas não me encara. Olha para o chão e para mim. Eu o observo como um lobo, nutrindo-me de seu pavor. Ele reage, da única forma que poderia: 

_Veio me matar? _Ele pergunta, como se isso fosse algum tipo de defesa. Como se tal pergunta fosse me deixar com algum tipo de pena.

_Não! _Respondo. _Não iriam me chamar aqui para isso.

_Então, chame alguém que o faça. Por favor, vamos acabar logo com isso.

Descrença. O mais comum e um dos mais saborosos sentimentos dos homens. Base de toda sua decadência.
Humanos. Já me esqueci como é ser um.

_Você tem que cumprir alguma tarefa. _Recomeço. _Do contrário, já estaria morto. Está fazendo um pilar de sustentação para uma cúpula. A primeira pergunta é: porque você?

_Eu não sei! O homem que entrou com você me procurou meses atrás. Pediu-me para fazer reformas em sua casa. Sou um artesão, faço isso a vida inteira. Montei uma pequena fábrica de móveis alguns anos atrás. Sou apenas isso, não sei o que ele quer de mim.

O homem se desespera na minha frente. Começa a soluçar e a chorar compulsivamente. Eu o interrompo, querendo saber sua história:

_Contenha-se! _Falo rispidamente. _Continue seu relato.

Ele se assusta, porém, eu esperava uma reação maior. Talvez eu esteja “enferrujado”. Ou, talvez, os tormentos que passou aqui foram tantos que isso não mais o abala. Após alguns segundos, ele retoma:

_Depois da reforma, ele disse que precisaria dos meus serviços em outro lugar. Disse que meu trabalho era magnífico e que somente eu poderia fazer. Eu neguei, pois moro em Minas Gerais, e o serviço era aqui no Rio de Janeiro. Eu não poderia vir assim, de uma hora para a outra. Então, numa noite, quando eu fechava a fábrica... não sei o que aconteceu... eu acordei aqui, neste apartamento, com estes monstros empalhados. Disseram-me para fazer esse pilar, para que ficasse igual aos outros. Eu não quis, gritei que era seqüestro. Então, eles me mostraram monstros piores. Mostraram dentes... meu Deus, eles...

Novamente o homem quis se descontrolar. Fitei-o com um olhar ameaçador, que o fez rapidamente entender o recado. E continuar:

_Você é igual a eles, não é? Você também é um vampiro, não é? Meu Deus, vampiros existem?

_Sim, existem! _Falo! E aguardo. Fico em silêncio por alguns segundos, para que recobre a consciência.

_Ele prometeu poupar minha família!

_Quem? _Pergunto! _O homem que entrou aqui comigo? O que lhe trouxe aqui?

_Não! O outro.

_Deve estar se referindo a Malberon! Se ele disse isso, realmente sua família será poupada. Basta fazer um excelente trabalho. E anime-se, poucos humanos tem o privilégio de se encontrar com Malberon. Ele é o primeiro vampiro do mundo.


CONTINUA....

quarta-feira, 27 de julho de 2011

ATÉ QUE ENFIM UMA LEITURA INTELIGENTE

NÃO DEIXE DE LER. ATÉ QUE ENFIM UMA LEITURA INTELIGENTE. POR MUITO TEMPO BUSQUEI QUADRINHOS ADULTOS, QUE DESAFIASSEM MEUS SENTIDOS E LÓGICA. ENCONTREI AQUI. DIVERSAS HISTÓRIAS, DIVERSOS ARCOS.


VERTIGO.... PARABÉNS
http://web.hotsitepanini.com.br/vertigo/

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 2

Atravessamos todo o corredor sem mencionarmos nenhuma palavra. Apenas observando as diversas cúpulas disposta em diagonal umas as outras, cada uma com um exemplar de uma espécie diferente. Minotauro, anão, elfo, kobold. Alguns foram muito difíceis de encontrar.
Ao fundo do corredor, após a última cúpula, noto um homem sentado no chão. Em suas mãos, uma espátula e outros instrumentos espalhados ao redor. Seu semblante é triste, preocupado e desiludido. Seu cheiro é forte, mescla de suor e medo. Posso sentir o sal de suas lágrimas ressequidas, já absorvidas pela pele de seu rosto.
O rapaz que me acompanha nos deixa a sós.  Aproximo-me do homem e percebo que ele está à frente da parede, manuseando uma espécie de pilar, quase da altura dos outros do corredor. Manuseando, não. Na verdade, ele o está esculpindo, de modo muito similar aos que sustentam as cúpulas. Seus dedos estão desgastados pelo atrito com o concreto. Algumas das unhas estão quebradas, mas ele parece não se importar. Quer terminar o trabalho, nem nota minha presença.
Surpreendo-me.
Um homem, um humano, fazendo meu trabalho? Ampliando minha obra? E porque mais uma cúpula? Teria Malberon encontrado mais uma espécie? Como eu poderia desconhecer?


CONTINUA....


terça-feira, 12 de julho de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 1

É sempre assim que começa. Por séculos, sempre foi desta maneira. Mas nunca antes neste local. Nunca uma reunião ocorreu no covil do primeiro vampiro do mundo.
Estou no corredor que dá acesso à porta de entrada do apartamento. Um homem está parado, olhando para mim. Um rapaz de aparência jovem, de ombros largos e face fechada, vestido em um terno azul-escuro muito elegante. O cabelo é raspado e quase reluz com a luz do corredor. Ele me cumprimenta, acenando com a cabeça, sem dizer nenhuma palavra. Já aguardava minha chegada. Então, ele se vira e abre sutilmente a porta, revelando um imenso apartamento. Na entrada, um enorme aposento, de padrão rústico, com tons amarronzados nas paredes e móveis antigos. Nos cantos, estátuas de muitas culturas dividem lugar com armaduras medievais. Diversas estantes com artefatos e objetos, igualmente antigos. Cortinas transparentes descem do teto. Almofadas vermelhas se amontoam ao redor de diversas camas espalhadas pelo chão. A iluminação é feita, predominantemente, por velas, em belíssimos e bem trabalhados castiçais.
Todos os que entram pela primeira vez aqui devem fazer a mesma observação que a minha. Todos devem reparar nestes sutis detalhes da decoração.
Completamente antagônica aos costumes desta época.
O rapaz, então, me conduz a um dos cômodos do apartamento, um pouco distante de onde estávamos. Na verdade, não se trata de um cômodo, mas de um singular corredor, extenso, porém estreito, iluminado por um único facho de luz que corre pelo teto, do início até o fim. Nas paredes, dos dois lados, pilares de meio metro de altura ostentam cúpulas de um vidro espesso que quase alcançam o teto, cada um disposto em diagonal ao outro, de modo que quem passe pelo corredor veja um à direita e, passos depois, outro à esquerda e, assim, sucessivamente.
Reflito sobre a forma com que todos os que entram aqui percebem estes detalhes. Acredito que seja exatamente como fora minha observação. Pois fora exatamente assim que planejei este lugar.
Eu nunca havia estado aqui. Mas fui o responsável pela construção deste local, séculos atrás. É o que eu faço, é a minha missão, minha contribuição. Reparo no primeiro pilar, que tem entalhado alguns rabiscos e gravuras de povos primitivos.
“Goblin”!
Está escrito esta palavra, numa pequena placa fixada meio da base do pilar, no antigo e extinto dialeto goblinóide. Fito o interior da cúpula e vejo, empalhada, de corpo inteiro e em pé, a figura de uma daquelas criaturas. Encanto-me, novamente, pela perfeição do meu trabalho. Mesmo após tanto tempo, ainda fica nítido a cor viva de seus olhos, suas grandes orelhas pontiagudas e a tonalidade verde de sua pele. Sinto-me tão bem, que quase esbanjo um sorriso, mas me contenho na frente do rapaz, para não demonstrar nenhum sinal de fraqueza.




CONTINUA.....

terça-feira, 10 de maio de 2011

ATAQUE REAL DE ZUMBIS NO BRASIL.

MAIS UM VÍDEO REAL PARA A CAMPANHA "ENCONTRE SEU ZUMBI". GAROTO ATERRORIZADO COM O QUE VÊ DA JANELA DE SEU APARTAMENTO. AGORA, A INFESTAÇÃO ALCANÇOU PATAMARES DE EPIDEMIA. CUIDADO QUANDO SAIR NA RUA, COMECE A ESTOCAR ALIMENTOS E ÁGUA. ELES ESTÃO POR TODA PARTE





NÃO APENAS NO LIVRO DO IMORTAL KALYMOR E NOS FILMES. A PROFECIA ESTÁ SE CONCRETIZANDO. 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

VÍDEO DE UM ZUMBI REAL. COMEÇA A CAMPANHA "ENCONTRE SEU ZUMBI"

ESTOU FICANDO LOUCO?? O MUNDO ESTÁ FICANDO LOUCO??? FOI FILMADO UM ZUMBI REAL, AQUI NO BRASIL... IMAGEM DEIXA CLARO QUE ALGO ESTÁ ACONTECENDO DE ERRADO. ESTARÍAMOS CAMINHANDO RUMO A UM APOCALIPSE ZUMBI???
COMEÇA AQUI A CAMPANHA "ENCONTRE SEU ZUMBI". VAMOS MOSTRAR IMAGENS REAIS E DENUNCIAR PARA AS AUTORIDADES, ANTES QUE VIRE UMA PRAGA E LEVE AO FIM DA HUMANIDADE.



SERIA ALGO NA ÁGUA? SERIA O AUMENTO NA GASOLINA? O USO EXCESSIVO DE DIAZEPAM? CADA VEZ MAIS E MAIS PESSOAS ESTÃO SE TORNANDO ZUMBIS. O PRÓXIMO PODE SER VOCÊ!

VÍDEO DE UM ZUMBI REAL. COMEÇA A CAMPANHA "ENCONTRE SEU ZUMBI"

ESTOU FICANDO LOUCO?? O MUNDO ESTÁ FICANDO LOUCO??? FOI FILMADO UM ZUMBI REAL, AQUI NO BRASIL... IMAGEM DEIXA CLARO QUE ALGO ESTÁ ACONTECENDO DE ERRADO. ESTARÍAMOS CAMINHANDO RUMO A UM APOCALIPSE ZUMBI???
COMEÇA AQUI A CAMPANHA "ENCONTRE SEU ZUMBI". VAMOS MOSTRAR IMAGENS REAIS E DENUNCIAR PARA AS AUTORIDADES, ANTES QUE VIRE UMA PRAGA E LEVE AO FIM DA HUMANIDADE.



SERIA ALGO NA ÁGUA? SERIA O AUMENTO NA GASOLINA? O USO EXCESSIVO DE DIAZEPAM? CADA VEZ MAIS E MAIS PESSOAS ESTÃO SE TORNANDO ZUMBIS. O PRÓXIMO PODE SER VOCÊ!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

ASSALTO A UM ZUMBI

A VIOLÊNCIA NO BRASIL NÃO TEM LIMITES. ALCANÇOU PROPORÇÕES INESTIMÁVEIS. DESTA VEZ, ATÉ MESMO UM ZUMBI FOI ASSALTADO..... QUE HORROR, NÃO SE PODE SER MAIS MONSTRO DO QUE ISSO. IMAGINA O QUE OS CRIMINOSOS NO BRASIL FARIAM COM O DRÁCULA??


NA MESMA MOEDA..... ALGUÉM AÍ FARIA ESSE PROTESTO COMIGO???

GRANDE IDÉIA, PERFEITA IDÉIA. DE TÃO SIMPLES QUE É, FICOU PERFEITA MESMO. SOU O PRÓXIMO A FAZER ISSO, VOU ESCOLHER UM POSTO DE COMBUSTÍVEL DA FLORIPA.




ALGUÉM AÍ ME ACOMPANHA? DEIXA UM COMENTÁRIO...

4000 ACESSOS.... RUMO AOS 5000

BOM DIA, CARO LEITOR. DESCULPE POR TER FICADO AFASTADO DO BLOG POR UM TEMPO, MUITOS AFAZERES. QUERO AGRADECER O NÚMERO DE ACESSOS E DIZER QUE VOCÊ É MUITO IMPORTANTE PARA MIM. OBRIGADO POR ACOMPANHAR OS "INDERLÚDIOS" QUE, POR SINAL, ESTARÃO DE VOLTA. PRETENDO, TAMBÉM, REALIZAR ALGUMAS MUDANÇAS NO BLOG, FALAR MAIS COISAS RELACIONADAS NÃO SOMENTE AO MUNDO DE KALYMOR, MAS AO MEU MUNDO. COISAS DO COTIDIANO, ENTRETENIMENTO, LIVROS, CINEMA. VAMOS VER NO QUE VAI DAR...
OBRIGADO MAIS UMA VEZ E RUMO AOS 5000 ACESSOS..

terça-feira, 19 de abril de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 14

_Não! Não diga isso! Jamais algo assim estaria além de sua compreensão, mas, talvez, de sua aceitação. Livre-se de seus conceitos humanos, fechados e cegos. Seu próprio ser é mais que isso. Continue o raciocínio, dê valor ao que está recebendo hoje. Aceite que Deus está em tudo, em todos os lugares, em todos os atos, em todos os sentimentos. Em todos os planetas e em todas as flores. Nas galáxias e no medo. No sorriso e na morte. No chão que está pisando e na totalidade de seu corpo. Compreenda que você é Deus. O mendigo, o cachorro urinando no poste, a criança nascendo, a ofensa e a jura de amor. Tudo isso é Deus. É a lógica mais simples da existência.

_A humanidade jamais aceitaria isso! É difícil até para mim.














_Sim! Por isso eu os controlo e estou no topo do mundo deles! Eles jamais iriam conceber que Deus não está em seus rituais, em suas orações decoradas, em seus símbolos. Jamais entenderiam que Ele não
se importa com isso. Que o maior agrado a Deus é oferecer um ombro amigo a alguém que chora, do que saber a Bíblia inteira. Que ajudar uma pessoa idosa a atravessar a rua, ao invés de pagar uma promessa estúpida a um santo que não precisa disso. De que vale a crença, se eles não fazem nada por si mesmos? Se não ajudam uns aos outros, da forma mais simples e sincera que poderiam? Não entendem que, se derem um pão a um carente, estarão diretamente alimentando o próprio Deus. Não aceitam como é fácil e simples entrar em contato direto com Ele, sem a necessidade de qualquer tipo de instituição, valendo-se apenas de seus atos, do que fazem ao próximo e a si mesmos. Não percebem que quando ferem, com palavras ou com armas, estão dilacerando o coração do Criador. Não entendem que a salvação não está do outro lado, mas aqui. Este lugar é o paraíso, e ele é que deve ser melhorado, porque aqui é onde seus dedos podem alcançar e, também, inegavelmente, é uma parte “Dele”. Seus esforços devem ser voltados para cá, para este mundo, para o que deixarão aos seus filhos e a todo o amanhã. Não devem viver uma vida de condutas regradas, negações e modos, visando à salvação em outro plano, como se este aqui fosse apenas uma espécie de “teste”. Mas devem, sim, viver deste modo, visando este plano. Por que Ele criaria este lugar para a salvação em outro? O que ganharia? Se Ele é tão superior, por que precisaria de nós? Por que se incomodaria? A humanidade irá buscá-lo por milênios e, à medida que avançarem, estarão se afastando ainda mais. Não sabem que devem dar valor ao “aqui”, porque o “aqui” é o maior presente que podem ter. Deus é o que é feito ao próximo, somente e completamente isso.

Desabei no chão como uma fruta apodrecida, quando o vampiro concluiu sua elucidação. A revelação fora forte demais para que meu corpo pudesse se manter ereto. Minha mente saltitava por todos os cantos de meu juízo, querendo, furiosa, sair dali. Ansiava em não ter que compreender tal assunto, sabendo não ser capaz disso. Deus sempre esteve me rodeando, e eu, ingenuamente, segui por 800 anos achando que Ele havia me abandonado. E até mesmo me punido amargamente com a condenação de minha sina. Mas agora, de uma maneira inusitada, eu mesmo era Deus.
Com a balbúrdia dos gritos regurgitantes de minha mente, voltei a olhar o quadro e percebi o que realmente eu tinha de ver. Deus é o universo, lugar onde as coisas existem. Deus é o tempo, que permite a continuidade das coisas. E Deus é o mana, o componente das coisas que existem.    












TERMINA AQUI MAIS UMA POSTAGEM DE "INTERLÚDIOS". ESTE TRECHO FOI RETIRADO DO LIVRO O IMORTAL KALYMOR. AGUARDE NOVAS INTRIGAS DO MUNDO DOS VAMPIROS DA SAGA DE HANS KALYMOR. DEIXE SEU COMENTÁRIO PARA QUE EU POSSA ESTAR SEMPRE ATENTO AO QUE VOCÊ GOSTA.
OBRIGADO.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 13




_A energia que utilizamos em nossas magias? _Indaguei!

_Logicamente, sim! Os magos manipulam o mana para gerar o que desejarem. Criam ilusões, encantamentos, movem um objeto de um lugar ao outro. Podem, com um pensamento, congelar o corpo de uma pessoa. Mas essa pessoa não poderia ser congelada de uma maneira que chamamos de “natural”? Se esse corpo for submetido a temperaturas extremamente baixas, suas células e suas moléculas, os átomos e o mana que o integram não sofreriam o mesmo efeito? O mana seria modificado, de uma forma ou de outra, e produziria o mesmo resultado. O que chamamos de magia é apenas uma diferenciada forma de manipular a própria natureza. De manipular o “tudo”.

_A magia é apenas um caminho alternativo. _Utilizei-me de palavras para ordenar o pensamento. _Não há nada de místico, somente a matéria sendo moldada de outra forma. Como um homem lançando lenha numa fogueira, alterando suas partículas de modo a gerar calor, realizando o mesmo que um mago ao fazer com que ela entre em combustão espontânea. Ambos alterando o mana. Mas, ainda assim, esbarro em um ponto. Como posso convocar almas, entrar em contato com quem já não mais pertence a este plano? Como minha própria alma pode habitar aqui, se eu não mais possuo o cordão-de-prata? Talvez eu mesmo responda à minha indagação, compreendendo que o universo é composto por todos os planos e, sendo ele único, então deve haver um ponto em comum que permita que isso seja possível. O mana é a partícula indivisível de todo o universo! Comum a tudo o que existe! Sim, isso explicaria as possibilidades. _Reflito, ainda tomado por questionamentos.

_O que irá confundir sua mente, Hans, vem agora! Aceitou que o universo é “tudo”, e o “tudo” é Deus. E, se o mana está presente em tudo, de certa forma você não estaria manipulando Deus? O homem que mencionou jogando lenha na fogueira, não estaria diretamente queimando Deus? Ele próprio não seria Deus?

_Isso está além de minha compreensão, Malberon! _Reclamo e hesito, como se minha mente não suportasse esse mergulho nas águas revoltas e inseguras dos mares da revelação.


CONTINUA....

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 12

_Quem é Deus?

Ouço o padre se mover para trás. Uma respiração breve e profunda, seguida de um gesto de firmar os ombros, como se esperasse uma agressão. Paro um instante, o mínimo que posso fazer. A pergunta foi pequena, mas ressoou como mil trompetes em um quarto apertado. Quase tenso, o padre aguarda que eu continue, num misto de temeridade e curiosidade, sendo esta última indigna de habitar sua consciência, tendo em vista a responsabilidade que carrega. Porém, sinto, no som da madeira do confessionário, que responde aos seus movimentos grosseiros e entrega sua inquietude, que o conflito é maior. Pois mesmo ele, um padre, com todas suas certezas, antes de tudo é uma pessoa comum, com todos seus questionamentos. Uma alma inferior, dividida na tarefa de parecer superior.
O instante passou ligeiro. Mesmo que não tenha jamais sido tempo suficiente.

_Pergunta-me isso, _disse, então, o vampiro _mas sabe até onde deseja compreender? Posso lhe explicar o “tudo”, mas, se o fizer, que sentido terá o restante?

_Caso eu fosse uma pessoa comum, um humano, com a mesma sabedoria que tenho hoje, desejaria não ter esse conhecimento, pois nada em minha vida importaria depois desta noite, nem todos os outros momentos antes dela. Mas sou diferente, não me limito a um futuro, ou a um plano, ou a um propósito. Meu estado amorfo permite fazer tal pergunta e obter a resposta. E também você permite, Malberon. Seu convite...

_Então, vamos a ela! A compreensão da fórmula. Ao entendimento do universo. _E começou, sem mais delongas, ou suspense, ou qualquer tipo de preparação, como se algo nele o incentivasse a passar tal conhecimento. _Aquilo que chamam de Deus é um ponto em comum. Um equilíbrio. Um pêndulo que oscila de um lado para o outro. O universo poderia ser chamado de Deus. E já que esta fórmula une todas as forças, o “U”, então, poderia ser Deus. Mas, se aceitarmos isso, negaríamos a pergunta: “E quem criou o universo?” O problema é que aceitamos a existência de Deus como sem origem, como uma criatura onipotente que sempre existiu. Mas, se este “U” é “Ele”, então o universo não poderia sempre ter existido? Não poderia ser sem origem?

_Então, devo lhe perguntar o que é o universo?

_Talvez! Mas assim você já teria aceitado o que eu lhe disse. Definimos o universo como o “tudo”. Mas tudo o quê?

_As galáxias, os planetas, as estrelas...

_Não! Assim o “tudo” seria somente uma parte do... “tudo”. Apenas a matéria, o sólido, o que você pode conceber. Assim, o universo seria um espaço onde as coisas se encaixariam. Lugares com distâncias calculáveis. Se isso for “tudo”, então, logicamente, é só isso que existe. Como, então, explicaria a sua existência? A sua permanência aqui? Deve compreender a situação de sua alma, a condição atual de sua amada e, também, o seu poder de necromante, de convocar forças que não são daqui. De onde provêm? De um planeta, de um lugar distante, de outra galáxia? Certamente que não. Concluímos, dessa maneira, que o universo é “tudo”. E que o “tudo” é muito mais do que tocamos.

_Então, o universo é imensamente grande!

_Eu diria que, de tão grande que é, torna-se infinitamente pequeno. Desta forma, Deus é a coisa mais minúscula que você pode imaginar. Ele é o universo, mas isso se divide em incontáveis planos de existência. No espaço, temos os astros, as constelações e este planeta. Em outros planos, temos realidades alternativas, momentos que não existiram aqui porque algum ato, ou não ato seu, não permitiram. Em algum lugar, por exemplo, este instante estaria acontecendo de outro modo, caso você não tivesse seguido o jovem vampiro até aqui. Caso você tivesse matado Ismael. Caso Winslet jamais tivesse visitado sua tribo. Em algum plano, Marina brinca ao lado de anjos luminosos. Em algum plano, ela já voltou. Em outro, talvez, já tenha partido novamente. Isto é Deus, todas as infinitas existências, ocorridas ou não, ou ocorridas em outro lugar. O universo inteiro de possibilidades. E, ainda assim, afirmo que Ele é pequeno. Repito que é um ponto em comum. Porque tudo isso tem que ser interligado de alguma forma. Pois, se Ele é “tudo”, não pode ser fragmentado, para que essas possibilidades existam separadamente. Eis, então, o erro de pensamento dos homens. Um Deus grande, imenso. O equívoco máximo. Pois O procuram no extremo completamente oposto. Este plano contém os planetas, entre eles a Terra, nela o vento, a água, a natureza, a vida. Numa escala decrescente das coisas, chegamos, inevitavelmente, ao átomo. Antes, acreditava-se ser ele a matéria comum a todo o resto. Hoje, até mesmo ele foi dividido e, no futuro, será ainda mais dividido e decifrado, até um ponto onde não mais haverá ramificações.

_Entendo o erro! O “tudo”, o conjunto da existência é formado da união de partículas diminutas. Deus, então, não é o máximo, mas o mínimo que podemos conceber.  E que ponto é esse onde as ramificações terminam?

_O “mana”! _Afirmou o vampiro.

_A energia que utilizamos em nossas magias? _Indaguei!


CONTINUA.....

terça-feira, 5 de abril de 2011

OBRIGADO, PESSOAL, PELAS 3000 VISUALIZAÇÕES DESTE BLOG

NÃO PRECISO DIZER MAIS NADA, SÓ UM MUITO OBRIGADO, DE TODO CORAÇÃO. CONTINUE ACOMPANHANDO A SAGA DE HANS KALYMOR, DEIXE SEU COMENTÁRIO, ELE É MUITO IMPORTANTE PARA MIM.

AJUDE A DIVULGAR ESSE BLOG, PRA TODOS AQUELES QUE GOSTAM DE MUNDO DAS TREVAS, FANTASIA MEDIEVAL, VAMPIROS, ELFOS, MAGOS, DRAGÕES E TUDO RELACIONADO....



E RUMO AS 4000....

quinta-feira, 31 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 11

O vampiro voltou seus passos em minha direção, pondo-se ao meu lado. Mantinha os dedos unidos na altura da cintura, como já fazia havia algum tempo. Contemplou o quadro-negro como também eu o fizera, mas provavelmente não tão desconcertado. Certamente permaneci muitos instantes em transe, esquecendo de todo o restante de coisas que presenciei naquela noite. Talvez, também, tudo o que havia presenciado ao longo de minha existência. “U”, começava a sentença. Depois, o símbolo de “igualdade” e, à direita do sinal, uma quantidade imensa de variáveis e constantes, de números inteiros e fracionados, num total de quatorze linhas que preenchiam inteiramente o quadro. Uma fórmula extensa em volume e dificuldade, mas a compreensão de sua importância era tamanha que ela parecia ser diminuta e simples. Coloquei-me à sua frente e estiquei uma das mãos, na vã tentativa de tocar o quadro. Mas, logicamente, não poderia fazê-lo, pois o contato borraria o que estava escrito. “U”, novamente fixei-me nele. E assim procedi por diversas vezes, até o vampiro se manifestar:

_Impressionante, não? Ainda mais por ser percebida isolada, em meio ao restante do que lhe mostrei. Somente olhos sábios iriam parar aqui.

_Isto é inconcebível! _Afirmei. _Pensei que seria somente o sonho de um notório cientista. Uma fórmula que unisse todas as outras.
_Sim! “U”, de “Universo”.

Diante de mim estava uma expressão que relacionava todas as forças que compõem a existência. A fórmula soberana, uma conta que unia todas as outras contas, que mesclava os princípios da Física e da Matemática e, por conseguinte, também da Filosofia. Bastava jogar números nas variáveis, quando uma dúvida surgisse. Qualquer um que a soubesse poderia esquecer qualquer outra fórmula, qualquer outra lei e, ainda assim, saberia tudo. A resposta definitiva. A explicação suprema de todas as perguntas. O universo inteiro estava ali, elucidado em míseras quatorze linhas.

_Diga, Malberon, há alguma coisa que não saiba? Perto deste conhecimento, nenhum outro tem comparação. Não há equivalência. _Falei, com as palavras tropeçando no transtorno de minha razão.

_O restante é inferior! Esta é sua conclusão, agora! E isto permite a você elaborar qualquer pergunta que obterá resposta. E sei o que irá questionar. A mais complicada das perguntas, com a mais óbvia das respostas.

Virei para o vampiro, posicionando-me à frente de sua face, quase tocando nela. Os olhos se rasgavam como seda, querendo os meus penetrar no mundo dos dele. Éramos titãs, seres acima de nós mesmos, embriagados pelo mais fino néctar da mais completa sabedoria. Então perguntei, em meio àquele banho de magnitude:






_Quem é Deus?









CONTINUA.....

terça-feira, 29 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 10

_Foi uma noite de grandes revelações! _Começa o padre. _O primeiro vampiro do mundo se esconde neste país? Tão próximo daqui?

_É quase surreal, mas é um fato! Quem poderia imaginar que um lugar onde o Sol é escaldante e pleno abrigaria tal criatura? Não deixa de ser um esconderijo perfeito. Mas claro que isto não passa de uma simples peculiaridade, diante de tudo o que aconteceu. O senhor deve estar inquieto quanto às obras e às espécies, e mais em relação ao Cálice Sagrado. Impossível acreditar que o tive em minhas mãos, em um apartamento, no Rio de Janeiro. Mas tudo o que contei é verdadeiro, todos os detalhes, desde o início de minha confissão. Comecei de uma maneira extremamente impressionante sobre o mundo e a época, mas lentamente firmei um elo com o senhor que permitiu que nossas distâncias diminuíssem. Não digo que o fiz crer, certamente que não, mas retirei o freio de sua consciência, expandindo sua visão. Falei de lutas, de ensinamentos, de encontros, com tal convicção que o senhor não teve mais espaço para oscilar. Entrou em minha conversa, me fez indagações, participou. Mesmo eu, em diversos momentos, relatando absurdos sobre o cristianismo, alicerce de toda a sua vida. Mas, temo que este vínculo se perca neste momento. Temo em contar esta parte, e que o senhor não assimile a contradição. Que não tenha sabedoria suficiente para refletir de uma maneira sensata e imparcial, fora dos parâmetros desta instituição. Porque, irremediavelmente, cheguei no ponto em que destruirei todos seus princípios...

_Sim! O confronto que várias vezes você mencionou. Saiba que não tenho intenção nenhuma em questioná-lo. Esta não é minha função, por mais incoerente, embaraçoso, fantasioso ou até mesmo hostil que possa ser. Isto por acaso tem alguma relação com a tal fórmula matemática?

_Completamente...



CONTINUA....

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 9

Caminhando arrastadamente, Malberon deixou a sala de sua “coleção”. Ainda ferido pelas imagens, continuei meus passos ao lado do vampiro, tomado de uma profunda consternação por aquelas espécies. Senti-me um infeliz sobrevivente de um passado remoto, infeliz, pois sabia, agora, que não pertencia ao mundo que deveria ser o real e, sim, a uma imitação vil. Eles todos, presos em suas redomas de vidro, gritavam para mim como crianças perdidas, almas escondidas e impedidas da chance de viverem. Quase tapei meus ouvidos, pois seus chamados melancólicos eram insuportáveis. Em minha vergonha de estar ali, e de não estar ali com eles, repousei e os calei na frieza de meu ser amorfo, indo para outra sala da morada do vampiro, abandonando-os, desse modo, sob o silêncio que minha maldade permitia. Pois eu, invariavelmente, haveria de ser um vampiro, mesmo que talvez um tipo seleto, visto minha condição, porque eu estava livre e os observava da mesma forma que meu anfitrião. Já não sabia se o sorriso amarelado de Malberon provinha mesmo de sua face ou, talvez, da minha. Deixei-os, então, como o monstro que eu me tornara, convicto de que as cúpulas eram o lugar certo e não havia uma à minha espera.
A sala que adentramos, no novo aposento, era uma biblioteca. A luz, agora, era um pouco mais forte e exaltava uma impressão exótica do lugar, composto por pilares de madeira enegrecida, com frisos e vãos robustamente moldados, e paredes alaranjadas que seguiam o mesmo padrão. Livros antigos, grande parte deles manuscritos, dividiam as estantes com a poeira, aparentemente nunca tirada. Meus dedos coçaram como um esfomeado à frente de um banquete. Numa passada rápida com os olhos e um dedilhar quase furioso em folhas que pareciam me evocar, encantei-me, de imediato, pelo acervo. Ele continha, além de vestígios históricos nunca relatados e contos com páginas inacabadas de autores com os quais a humanidade não teve contato, também vastas obras sobre magia e ocultismo. Minha atenção foi completa, e quase esqueci do asco da sala anterior, pois uma imensidão de conhecimento e poder místico estava à mercê de minha ânsia. Malberon caminhava à minha frente, por vezes virando a cabeça para o lado, de modo a me olhar e observar a reação que eu estava tendo. Um tamborilar de desejo açoitava minha mente, pois havia séculos literaturas como aquelas tinham se perdido na destruição do passar de eras. Conhecimento repreendido, enclausurado pelo querer de Malberon.
Titubeante, tanto quanto estava no corredor das cúpulas, ou talvez mais, balbuciei, ainda estarrecido pela oportunidade do momento:

_O que eu poderia aprender com você? Aonde chegaria em minha evolução? Vendo o que vi hoje é fácil contestar a razão, pois não exagero em dizer que o mundo inteiro se limita às paredes de sua morada.

_Quão poderoso você seria com estas informações? Se pudesse ler tudo que está nestas estantes, tornar-se-ia uma ameaça para mim? _Olhou-me de forma veemente, convicto de que a indagação não necessitava de resposta, pois fora feita como uma intimidação.

A cena entre nós era indescritível. Dois inimigos jurados se digladiavam com olhares tão laminosos que o ato de qualquer luta seria desnecessário. Ficamos completamente imóveis. Eu segurava um livro aberto, enquanto o vampiro, como se estivesse meditando, juntava, na altura da cintura, a ponta dos dedos delicados. Nos segundos de nosso duelo impiedoso, quando nem o destino sabia o próximo passo e somente aguardava um mínimo gesto para uma reviravolta de acontecimentos, fechei o livro, fazendo o som nos interromper, ao mesmo tempo em que uma névoa fina de poeira acariciava minha face. Como um derrotado não explícito, talvez um desistente, optei por desviar o olhar e pôr o livro de volta na estante. Fugi da resposta, fugi da intimidação. Acovardei-me como faz um corvo disputando a carniça com uma hiena, para que pudesse, sem um confronto direto, aproveitar os restos de sua refeição. Alimentando-me do que ele permitisse.
Malberon entendeu, mas não sorriu. Estava acostumado com este tipo de reação. Deu as costas novamente e seguiu para um local onde as estantes estavam mais distantes umas das outras. Ali havia mesas e instrumentos musicais, como um piano, um violoncelo, e paredes ostentando grandes pinturas de diversos períodos da História. Num dos espaços entre as estantes, isolado e escondido, havia um quadro negro, desses de que se utilizam os professores em suas aulas. Passaria despercebido ante um “Picasso” ou um “DaVinci”, entre outros que ali, estúpida e encantadoramente havia, e chamavam toda a atenção para si. Mas trazia, escrito com giz, uma sentença que lembrava uma expressão matemática.






Talvez pela simplicidade do objeto, não condizente com a magnitude do lugar, voltei frações de segundo para a fórmula. Tempo suficiente para que tudo antes, o Cálice Sagrado, as espécies empalhadas, os livros preciosos e as obras de arte perdessem seu valor. E eu não mais desviasse meus sentidos...


CONTINUA....

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 8

Fiquei em um tipo de transe, longe totalmente dali, enquanto caminhávamos ao término de uma escada que conduzia a um corredor extenso, porém estreito, iluminado por um único facho de luz que corria pelo teto, do início até o fim. Ao concluirmos o lance de escadas, Malberon soltou meu braço, movimento esse que retornou minha consciência àquele instante, e seguiu à minha frente, devido ao pequeno espaço que havia para passarmos lado a lado. Nas paredes, pilares de meio metro de altura ostentavam cúpulas de um vidro espesso que quase alcançavam o teto, cada um disposto em diagonal ao outro, de modo que quem passasse pelo corredor veria um à direita e, passos depois, outro à esquerda, e assim sucessivamente. Reparei no primeiro pilar, que tinha entalhado alguns rabiscos que lembravam gravuras de povos primitivos. Não compreendi o significado, e isso por si só já me foi estranho, pois não havia uma língua que eu não soubesse. Mas, no meio do pilar, havia uma palavra que identifiquei: “Goblin”! Então, direcionei o olhar para o interior da cúpula e assustei-me ainda mais, pois nela estava empalhada, de corpo inteiro e em pé, a figura de uma daquelas criaturas.















A perfeição do trabalho era tão incrível quanto diabólica. Memórias de mais de 500 anos retornaram, de uma era tão diferente, de um mundo distante, onde aquela espécie caminhava ao lado dos homens. Ao mesmo tempo em que observava perplexo os detalhes de seu corpo e a cor viva de seus olhos, suas grandes orelhas pontiagudas e a tonalidade verde de sua pele, fiquei imaginando o que meus passos me mostrariam, à medida que avançassem pelo corredor. Uma satânica coleção haveria de ali existir.
Não tive tempo de olhar muito para o goblin, pois Malberon não cessou sua caminhada pelo corredor. Continuei seguindo-o, enquanto as demais cúpulas lançavam em minha face um centauro e, mais para frente, um minotauro, um anão. O vampiro nada dizia, apenas olhava o chão como um velho faz quando anda, atento a qualquer obstáculo. Passamos quietos por um elfo, um kobold e, mais adiante, um ogro, parando somente em uma das cúpulas que mostrava um ser diferente.

_Veja o que o este continente escondia! Esta espécie vivia em matas densas e balançava entre as árvores com mais graça e agilidade que qualquer chimpanzé. _Apontou para a direita, onde havia um humanóide de pele lisa e negra, com braços compridos e mãos aparentemente pegajosas, de queixo grande e fino e nariz pontiagudo. E o corpo afilado na altura do abdome, formando uma única perna.





Chegamos em mais uma cúpula, onde ele novamente comentou:

_Não raras vezes, contemplei homens lançando-se ao mar, embevecidos pelo encanto destas mulheres, que deslizavam pelas águas com mais leveza que os peixes. _Apontou para uma mulher, incrivelmente linda e de seios fartos, cuja parte inferior do corpo era formada de escamas, terminando com uma nadadeira.

Passos adiante, continuou:

_Em lugares gelados, bem longe daqui, soube da existência de um tipo diferente de ogro, com pêlos que recobriam o corpo inteiro. E pés enormes, desproporcionais. _Mostrou um ser com essas características.

Minha consciência gritava. Espécies que eu acreditava habitarem somente o folclore do povo estavam estampadas em minha face. Seres que não tive a oportunidade de apreciar nem de aprender alguma coisa. Uma dor correu, uma falta, um vazio. Senti que eu estava em um mundo falso e mentiroso, que não deveria de ser desse jeito. Em minha longa vida, achei que havia, em algum ponto da história, dormido profundamente e, ainda hoje, esquecido de acordar. Tomado por este sentimento, paramos em frente a mais uma outra espécie. Com esta, porém, eu já havia tido algum contato:

_Licantropos! _Falou Malberon, reparando com olhos amendoados, aparentemente maravilhado com a cúpula onde estava um deles, como se aquela lhe proporcionasse uma satisfação especial. _Organizados de uma maneira sem igual, habitavam todos os cantos do continente, variando em inúmeras “subespécies”. Até mesmo aqui, de uma região para outra, eram notáveis suas diferenças. Os Lupinos do Norte tinham uma pelugem menos grossa e mais clara que os do Sul, que apresentavam tons mais acinzentados. Dividiam-se em grupos, ou “matilhas”, e se mesclavam aos humanos com facilidade. E ainda hoje, acredite, eles são muitos. Certamente todos os dias você se depara com algum, no centro da cidade, caminhando como uma pessoa qualquer. Nas faculdades, estão em praticamente todos os cursos. Pessoas comuns, transmorfos com a capacidade de virarem lobos quando bem quiserem. Os populares “lobisomens”. Você não esteve aqui quando tivemos os primeiros contatos com eles. Guerras sangrentas ocorreram entre licantropos e vampiros, disputas travadas entre matilhas e clãs por territórios e pontos estratégicos.

_A vitória sorriu aos vampiros? _Indaguei.

_A vitória sempre contempla os imortais! Esta é a sina e a bênção de quem tem as ondas do tempo a seu favor. Mas devo relatar que foram e são adversários formidáveis. Fortes, ágeis, astutos e disciplinados. Não disputam nosso “rebanho”, pois se alimentam de qualquer tipo de carne, odeiam-nos mais por nossa invasão. _Concluiu, deixando um sorriso singelo e amarelado, que transpareceu como um sorriso velho e gasto de triunfo antigo.


CONTINUA....