quinta-feira, 31 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 11

O vampiro voltou seus passos em minha direção, pondo-se ao meu lado. Mantinha os dedos unidos na altura da cintura, como já fazia havia algum tempo. Contemplou o quadro-negro como também eu o fizera, mas provavelmente não tão desconcertado. Certamente permaneci muitos instantes em transe, esquecendo de todo o restante de coisas que presenciei naquela noite. Talvez, também, tudo o que havia presenciado ao longo de minha existência. “U”, começava a sentença. Depois, o símbolo de “igualdade” e, à direita do sinal, uma quantidade imensa de variáveis e constantes, de números inteiros e fracionados, num total de quatorze linhas que preenchiam inteiramente o quadro. Uma fórmula extensa em volume e dificuldade, mas a compreensão de sua importância era tamanha que ela parecia ser diminuta e simples. Coloquei-me à sua frente e estiquei uma das mãos, na vã tentativa de tocar o quadro. Mas, logicamente, não poderia fazê-lo, pois o contato borraria o que estava escrito. “U”, novamente fixei-me nele. E assim procedi por diversas vezes, até o vampiro se manifestar:

_Impressionante, não? Ainda mais por ser percebida isolada, em meio ao restante do que lhe mostrei. Somente olhos sábios iriam parar aqui.

_Isto é inconcebível! _Afirmei. _Pensei que seria somente o sonho de um notório cientista. Uma fórmula que unisse todas as outras.
_Sim! “U”, de “Universo”.

Diante de mim estava uma expressão que relacionava todas as forças que compõem a existência. A fórmula soberana, uma conta que unia todas as outras contas, que mesclava os princípios da Física e da Matemática e, por conseguinte, também da Filosofia. Bastava jogar números nas variáveis, quando uma dúvida surgisse. Qualquer um que a soubesse poderia esquecer qualquer outra fórmula, qualquer outra lei e, ainda assim, saberia tudo. A resposta definitiva. A explicação suprema de todas as perguntas. O universo inteiro estava ali, elucidado em míseras quatorze linhas.

_Diga, Malberon, há alguma coisa que não saiba? Perto deste conhecimento, nenhum outro tem comparação. Não há equivalência. _Falei, com as palavras tropeçando no transtorno de minha razão.

_O restante é inferior! Esta é sua conclusão, agora! E isto permite a você elaborar qualquer pergunta que obterá resposta. E sei o que irá questionar. A mais complicada das perguntas, com a mais óbvia das respostas.

Virei para o vampiro, posicionando-me à frente de sua face, quase tocando nela. Os olhos se rasgavam como seda, querendo os meus penetrar no mundo dos dele. Éramos titãs, seres acima de nós mesmos, embriagados pelo mais fino néctar da mais completa sabedoria. Então perguntei, em meio àquele banho de magnitude:






_Quem é Deus?









CONTINUA.....

terça-feira, 29 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 10

_Foi uma noite de grandes revelações! _Começa o padre. _O primeiro vampiro do mundo se esconde neste país? Tão próximo daqui?

_É quase surreal, mas é um fato! Quem poderia imaginar que um lugar onde o Sol é escaldante e pleno abrigaria tal criatura? Não deixa de ser um esconderijo perfeito. Mas claro que isto não passa de uma simples peculiaridade, diante de tudo o que aconteceu. O senhor deve estar inquieto quanto às obras e às espécies, e mais em relação ao Cálice Sagrado. Impossível acreditar que o tive em minhas mãos, em um apartamento, no Rio de Janeiro. Mas tudo o que contei é verdadeiro, todos os detalhes, desde o início de minha confissão. Comecei de uma maneira extremamente impressionante sobre o mundo e a época, mas lentamente firmei um elo com o senhor que permitiu que nossas distâncias diminuíssem. Não digo que o fiz crer, certamente que não, mas retirei o freio de sua consciência, expandindo sua visão. Falei de lutas, de ensinamentos, de encontros, com tal convicção que o senhor não teve mais espaço para oscilar. Entrou em minha conversa, me fez indagações, participou. Mesmo eu, em diversos momentos, relatando absurdos sobre o cristianismo, alicerce de toda a sua vida. Mas, temo que este vínculo se perca neste momento. Temo em contar esta parte, e que o senhor não assimile a contradição. Que não tenha sabedoria suficiente para refletir de uma maneira sensata e imparcial, fora dos parâmetros desta instituição. Porque, irremediavelmente, cheguei no ponto em que destruirei todos seus princípios...

_Sim! O confronto que várias vezes você mencionou. Saiba que não tenho intenção nenhuma em questioná-lo. Esta não é minha função, por mais incoerente, embaraçoso, fantasioso ou até mesmo hostil que possa ser. Isto por acaso tem alguma relação com a tal fórmula matemática?

_Completamente...



CONTINUA....

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 9

Caminhando arrastadamente, Malberon deixou a sala de sua “coleção”. Ainda ferido pelas imagens, continuei meus passos ao lado do vampiro, tomado de uma profunda consternação por aquelas espécies. Senti-me um infeliz sobrevivente de um passado remoto, infeliz, pois sabia, agora, que não pertencia ao mundo que deveria ser o real e, sim, a uma imitação vil. Eles todos, presos em suas redomas de vidro, gritavam para mim como crianças perdidas, almas escondidas e impedidas da chance de viverem. Quase tapei meus ouvidos, pois seus chamados melancólicos eram insuportáveis. Em minha vergonha de estar ali, e de não estar ali com eles, repousei e os calei na frieza de meu ser amorfo, indo para outra sala da morada do vampiro, abandonando-os, desse modo, sob o silêncio que minha maldade permitia. Pois eu, invariavelmente, haveria de ser um vampiro, mesmo que talvez um tipo seleto, visto minha condição, porque eu estava livre e os observava da mesma forma que meu anfitrião. Já não sabia se o sorriso amarelado de Malberon provinha mesmo de sua face ou, talvez, da minha. Deixei-os, então, como o monstro que eu me tornara, convicto de que as cúpulas eram o lugar certo e não havia uma à minha espera.
A sala que adentramos, no novo aposento, era uma biblioteca. A luz, agora, era um pouco mais forte e exaltava uma impressão exótica do lugar, composto por pilares de madeira enegrecida, com frisos e vãos robustamente moldados, e paredes alaranjadas que seguiam o mesmo padrão. Livros antigos, grande parte deles manuscritos, dividiam as estantes com a poeira, aparentemente nunca tirada. Meus dedos coçaram como um esfomeado à frente de um banquete. Numa passada rápida com os olhos e um dedilhar quase furioso em folhas que pareciam me evocar, encantei-me, de imediato, pelo acervo. Ele continha, além de vestígios históricos nunca relatados e contos com páginas inacabadas de autores com os quais a humanidade não teve contato, também vastas obras sobre magia e ocultismo. Minha atenção foi completa, e quase esqueci do asco da sala anterior, pois uma imensidão de conhecimento e poder místico estava à mercê de minha ânsia. Malberon caminhava à minha frente, por vezes virando a cabeça para o lado, de modo a me olhar e observar a reação que eu estava tendo. Um tamborilar de desejo açoitava minha mente, pois havia séculos literaturas como aquelas tinham se perdido na destruição do passar de eras. Conhecimento repreendido, enclausurado pelo querer de Malberon.
Titubeante, tanto quanto estava no corredor das cúpulas, ou talvez mais, balbuciei, ainda estarrecido pela oportunidade do momento:

_O que eu poderia aprender com você? Aonde chegaria em minha evolução? Vendo o que vi hoje é fácil contestar a razão, pois não exagero em dizer que o mundo inteiro se limita às paredes de sua morada.

_Quão poderoso você seria com estas informações? Se pudesse ler tudo que está nestas estantes, tornar-se-ia uma ameaça para mim? _Olhou-me de forma veemente, convicto de que a indagação não necessitava de resposta, pois fora feita como uma intimidação.

A cena entre nós era indescritível. Dois inimigos jurados se digladiavam com olhares tão laminosos que o ato de qualquer luta seria desnecessário. Ficamos completamente imóveis. Eu segurava um livro aberto, enquanto o vampiro, como se estivesse meditando, juntava, na altura da cintura, a ponta dos dedos delicados. Nos segundos de nosso duelo impiedoso, quando nem o destino sabia o próximo passo e somente aguardava um mínimo gesto para uma reviravolta de acontecimentos, fechei o livro, fazendo o som nos interromper, ao mesmo tempo em que uma névoa fina de poeira acariciava minha face. Como um derrotado não explícito, talvez um desistente, optei por desviar o olhar e pôr o livro de volta na estante. Fugi da resposta, fugi da intimidação. Acovardei-me como faz um corvo disputando a carniça com uma hiena, para que pudesse, sem um confronto direto, aproveitar os restos de sua refeição. Alimentando-me do que ele permitisse.
Malberon entendeu, mas não sorriu. Estava acostumado com este tipo de reação. Deu as costas novamente e seguiu para um local onde as estantes estavam mais distantes umas das outras. Ali havia mesas e instrumentos musicais, como um piano, um violoncelo, e paredes ostentando grandes pinturas de diversos períodos da História. Num dos espaços entre as estantes, isolado e escondido, havia um quadro negro, desses de que se utilizam os professores em suas aulas. Passaria despercebido ante um “Picasso” ou um “DaVinci”, entre outros que ali, estúpida e encantadoramente havia, e chamavam toda a atenção para si. Mas trazia, escrito com giz, uma sentença que lembrava uma expressão matemática.






Talvez pela simplicidade do objeto, não condizente com a magnitude do lugar, voltei frações de segundo para a fórmula. Tempo suficiente para que tudo antes, o Cálice Sagrado, as espécies empalhadas, os livros preciosos e as obras de arte perdessem seu valor. E eu não mais desviasse meus sentidos...


CONTINUA....

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 8

Fiquei em um tipo de transe, longe totalmente dali, enquanto caminhávamos ao término de uma escada que conduzia a um corredor extenso, porém estreito, iluminado por um único facho de luz que corria pelo teto, do início até o fim. Ao concluirmos o lance de escadas, Malberon soltou meu braço, movimento esse que retornou minha consciência àquele instante, e seguiu à minha frente, devido ao pequeno espaço que havia para passarmos lado a lado. Nas paredes, pilares de meio metro de altura ostentavam cúpulas de um vidro espesso que quase alcançavam o teto, cada um disposto em diagonal ao outro, de modo que quem passasse pelo corredor veria um à direita e, passos depois, outro à esquerda, e assim sucessivamente. Reparei no primeiro pilar, que tinha entalhado alguns rabiscos que lembravam gravuras de povos primitivos. Não compreendi o significado, e isso por si só já me foi estranho, pois não havia uma língua que eu não soubesse. Mas, no meio do pilar, havia uma palavra que identifiquei: “Goblin”! Então, direcionei o olhar para o interior da cúpula e assustei-me ainda mais, pois nela estava empalhada, de corpo inteiro e em pé, a figura de uma daquelas criaturas.















A perfeição do trabalho era tão incrível quanto diabólica. Memórias de mais de 500 anos retornaram, de uma era tão diferente, de um mundo distante, onde aquela espécie caminhava ao lado dos homens. Ao mesmo tempo em que observava perplexo os detalhes de seu corpo e a cor viva de seus olhos, suas grandes orelhas pontiagudas e a tonalidade verde de sua pele, fiquei imaginando o que meus passos me mostrariam, à medida que avançassem pelo corredor. Uma satânica coleção haveria de ali existir.
Não tive tempo de olhar muito para o goblin, pois Malberon não cessou sua caminhada pelo corredor. Continuei seguindo-o, enquanto as demais cúpulas lançavam em minha face um centauro e, mais para frente, um minotauro, um anão. O vampiro nada dizia, apenas olhava o chão como um velho faz quando anda, atento a qualquer obstáculo. Passamos quietos por um elfo, um kobold e, mais adiante, um ogro, parando somente em uma das cúpulas que mostrava um ser diferente.

_Veja o que o este continente escondia! Esta espécie vivia em matas densas e balançava entre as árvores com mais graça e agilidade que qualquer chimpanzé. _Apontou para a direita, onde havia um humanóide de pele lisa e negra, com braços compridos e mãos aparentemente pegajosas, de queixo grande e fino e nariz pontiagudo. E o corpo afilado na altura do abdome, formando uma única perna.





Chegamos em mais uma cúpula, onde ele novamente comentou:

_Não raras vezes, contemplei homens lançando-se ao mar, embevecidos pelo encanto destas mulheres, que deslizavam pelas águas com mais leveza que os peixes. _Apontou para uma mulher, incrivelmente linda e de seios fartos, cuja parte inferior do corpo era formada de escamas, terminando com uma nadadeira.

Passos adiante, continuou:

_Em lugares gelados, bem longe daqui, soube da existência de um tipo diferente de ogro, com pêlos que recobriam o corpo inteiro. E pés enormes, desproporcionais. _Mostrou um ser com essas características.

Minha consciência gritava. Espécies que eu acreditava habitarem somente o folclore do povo estavam estampadas em minha face. Seres que não tive a oportunidade de apreciar nem de aprender alguma coisa. Uma dor correu, uma falta, um vazio. Senti que eu estava em um mundo falso e mentiroso, que não deveria de ser desse jeito. Em minha longa vida, achei que havia, em algum ponto da história, dormido profundamente e, ainda hoje, esquecido de acordar. Tomado por este sentimento, paramos em frente a mais uma outra espécie. Com esta, porém, eu já havia tido algum contato:

_Licantropos! _Falou Malberon, reparando com olhos amendoados, aparentemente maravilhado com a cúpula onde estava um deles, como se aquela lhe proporcionasse uma satisfação especial. _Organizados de uma maneira sem igual, habitavam todos os cantos do continente, variando em inúmeras “subespécies”. Até mesmo aqui, de uma região para outra, eram notáveis suas diferenças. Os Lupinos do Norte tinham uma pelugem menos grossa e mais clara que os do Sul, que apresentavam tons mais acinzentados. Dividiam-se em grupos, ou “matilhas”, e se mesclavam aos humanos com facilidade. E ainda hoje, acredite, eles são muitos. Certamente todos os dias você se depara com algum, no centro da cidade, caminhando como uma pessoa qualquer. Nas faculdades, estão em praticamente todos os cursos. Pessoas comuns, transmorfos com a capacidade de virarem lobos quando bem quiserem. Os populares “lobisomens”. Você não esteve aqui quando tivemos os primeiros contatos com eles. Guerras sangrentas ocorreram entre licantropos e vampiros, disputas travadas entre matilhas e clãs por territórios e pontos estratégicos.

_A vitória sorriu aos vampiros? _Indaguei.

_A vitória sempre contempla os imortais! Esta é a sina e a bênção de quem tem as ondas do tempo a seu favor. Mas devo relatar que foram e são adversários formidáveis. Fortes, ágeis, astutos e disciplinados. Não disputam nosso “rebanho”, pois se alimentam de qualquer tipo de carne, odeiam-nos mais por nossa invasão. _Concluiu, deixando um sorriso singelo e amarelado, que transpareceu como um sorriso velho e gasto de triunfo antigo.


CONTINUA....

terça-feira, 15 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 7



_E quanto ao Sagrado Pacto? Sempre ouvi rumores, mas nunca soube realmente o que é!

_Trata-se de um acordo que firmei, há muito tempo, com o maior representante dos cristãos. Nenhum vampiro poderia atacar um de seus seguidores, e eu receberia, por isso, algo em troca.

Parei um instante. E, nas frações de segundos de um pensamento, me veio um nome provável...

_E esse homem do acordo seria... ?

_Sim! _Respondeu rispidamente, deixando claro que não queria falar muito sobre aquilo. Mesmo assim, tentei fazer com que me desse mais conhecimento sobre o assunto, contornando de uma forma sutil para não ir diretamente ao ponto.

_Mas Winslet atacou minha tribo!

_Saiba que ele foi o primeiro a quebrar o acordo. Isso fez com que não fosse mais aceito entre nós. Seus atos foram intoleráveis.

_O que houve com ele?

_Refere-se ao que aconteceu na caverna? Quer saber se o destruí? Esta era a vontade de todos, não somente a sua. Winslet foi odiado, também, por ter perseguido e matado vários outros vampiros-mestres e se alimentado do sangue deles, ficando ainda mais forte. Sempre foi um recluso, um renegado por aqueles de sua espécie. Mas não, não o destruí. Deixei-o caminhar novamente pelo mundo, porque você não matou Ismael. E quanto ao Sagrado Pacto, já há muito não existe, pois não existem mais cristãos verdadeiros como os de sua época.

_Sempre senti que Winslet estava vivo! _Comentei, fazendo um olhar vago, buscando recordar todos os fatos que amarguravam minha existência e vislumbrar em minha memória a face maldita do vampiro.


CONTINUA....

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 6

Aquilo era uma verdade incontestável. Relembrei todos os anos de minha existência e de como acompanhei o desenrolar da fé. Vi, naquela noite, que ela se afastava a saltos largos da que eu conhecera, quando ainda tinha vida correndo em meu corpo e antes da perda de Marina, nos dias de minha tribo. Aquela fé era simples e fácil, e todos faziam questão de que assim fosse. Todos acreditavam sem contestar e seguiam somente a palavra. Mesmo nas pregações, nunca houve intenção de atrair novos adeptos, mas sim, de propagar a palavra para aqueles que cultuavam qualquer outra coisa ou que não cultuavam nada. Tão simples que não deixava espaço para preconceitos ou interpretações errôneas. Permitia a todos viverem em paz. Estabelecia a felicidade. E refleti em como aquela fé era diferente de todas as outras existentes.
Interrompendo meu pensamento, à minha frente Malberon se colocou, esticando uma das mãos e tocando minha face, numa espécie e carícia satânica. Seus olhos fixaram os meus e me paralisaram por completo, como se algum encanto me ameaçasse. Certamente não havia nenhum, a reação provinha de mim mesmo, e me senti como uma criança no escuro de um quarto, numa casa vazia, recebendo, na madrugada relampejante, a visita do demônio.



_Seu ódio o trouxe a mim! _Disse o vampiro. _Sua busca incessante. Eu sou o começo de tudo e o fim de sua caminhada. O último duelo! Mas isso não acontecerá, nem agora nem nunca. Você não está pronto.

_Faltam-me respostas! Diversos entendimentos! Mas tê-los o ameaçaria.

_Então, saiba o que perguntar! _Falou, retirando a mão de meu rosto. _Venha, deixe-me que lhe mostre meu lar.

O vampiro segurou um de meus braços como se fôssemos parentes. Fiquei um pouco constrangido, ainda não havia me acostumado com a proximidade de um vampiro, ainda mais um tão poderoso, que tinha motivos de sobra para me destruir. Mesmo assim, daquela maneira estranha, seguimos por sua casa, atravessando os aposentos sutilmente divididos e subindo lances de escadas que levavam a outros andares do prédio, mas que faziam parte daquele apartamento. Não compreendia a razão dele querer me mostrar seu covil e, certamente, alguns de seus segredos. Talvez um ritual, ou uma brincadeira macabra, para me conduzir a um lugar onde eu teria uma morte mais “elaborada”. Independente do motivo, eu nada poderia fazer senão segui-lo. A única escolha de minha alma perdida. Então, para quebrar o gelo do momento, perguntei:

_E quanto ao Sagrado Pacto? Sempre ouvi rumores, mas nunca soube realmente o que é!


CONTINUA.....

quinta-feira, 10 de março de 2011

XENON OU MACONHA?




MUDANDO DE ASSUNTO. VOU RELATAR UMA FATO INTERESSANTE, QUE ME DEIXOU UM POUCO PENSATIVO. VAMOS LÁ.
ONTEM À NOITE MEU PAI E EU ESTÁVAMOS INDO DE CARRO NA CASA DE UM COLEGA MEU PARA VERMOS O JOGO DO GRÊMIO QUANDO, PRÓXIMO AO SEMÁFORO NO SENTIDO MEIA PRAIA-PEREQUÊ, FOMOS ABORDADOS NUMA BLITZ DA PM (É ASSIM QUE SE ESCREVE??). MOSTREI MINHA CNH E DOCUMENTOS DO CARRO, ESTAVAM TODOS OK, PORÉM, O GUARDA QUESTIONOU SOBRE OS FARÓIS DO CARRO, QUE SÃO DO TIPO XENON. MEU CARRO É NACIONAL, E COLOQUEI O KIT PRIMEIRO POR QUESTÕES DE "ESTÉTICA" DO CARRO, MAS, TAMBÉM, POR USAR MUITO O CARRO À NOITE, EM VIRTUDE DE MORAR EM MEIA PRAIA MAS TRABALHAR EM SÃO JOÃO BATISTA E MAJOR GERCINO, CIDADES UM POUCO AFASTADAS DAQUI, TAMBÉM POR TER HORÁRIOS "QUEBRADOS", EM VIRTUDE DE PLANTÕES E OUTROS ATENDIMENTOS. SENDO O TRECHO TIJUCAS-SÃO JOÀO MUITO MAL SINALIZADO, ESCURO, E TER REGISTROS DE GRANDE NÚMERO DE ACIDENTES COM CARROS, MOTOS E ATÉ ANIMAIS NA PISTA, OPTEI PELOS FARÓIS.
MAS, CLARO, SEMPRE ESTIVE CIENTE DE QUE O FAROL TIPO XENON NÃO É PERMITIDO EM CARROS NACIONAIS, A MENOS QUE VOCÊ CONSIGA "LEGALIZAR" JUNTO AO DETRAN. NO MEU CASO, EU NÃO FIZ ESTE PROCEDIMENTO, PORTANTO, QUANDO FUI QUESTIONADO, NÃO TINHA O REGISTRO DO XENON NA DOCUMENTAÇÃO E O GUARDA, CORRETAMENTE E NÃO RECLAMO DISSO, PROCEDEU COM A MULTA E FICOU COM OS DOCUMENTOS DO VEÍCULO, SOLICITANDO QUE EU PASSASSE HOJE NA PM, COM O FAROL ANTIGO, ORIGINAL, DO VEÍCULO, PARA QUE EU PUDESSE PEGAR OS DOCUMENTOS DO VEÍCULO DE VOLTA.
CORRETO, NÃO QUESTIONEI EM NENHUM MOMENTO, SABIA QUE ESTAVA IRREGULAR E PAGUEI POR ISSO, APESAR DE TER CERTOS MOTIVOS PARA TER COLOCADO O FAROL TIPO XENON.
MAS, O QUE PRETENDO COMENTAR É O SEGUINTE: VOU FAZER UMA OUTRA OBSERVAÇÃO. E SE UM CIDADÃO ESTIVESSE CAMINHANDO NA RUA, COM UM BASEADO PEQUENO, FUMANDO SOZINHO, SEM INCOMODAR NINGUÉM (COMO VEMOS QUASE TODOS OS DIAS NO CALÇADÃO DA PRAIA DE MEIA PRAIA E, COM CERTEZA TAMBÉM EM BALNEÁRIO), E FOSSE ABORDADO PELA POLÍCIA. FOSSEM SOLICITADOS OS DOCUMENTOS PESSOAIS, FEITO UMA REVISTA E, SE REALMENTE ELE TIVESSE SOMENTE ESSE PEQUENO BASEADO????
PROVAVELMENTE SERIA LIBERADO, POIS ESTARIA USANDO PARA FINS PRÓPRIOS. SÓ QUE, SEGUNDO AS LEIS DESTE PAÍS, SE ESSE MESMO CIDADÃO TIVESSE UMA GRANDE QUANTIDADE E ESTIVESSE VENDENDO, SERIA TRÁFICO DE DROGAS, E ESTARIA PRESO, SERIA UM CRIME.
EIS A COMPARAÇÃO:
EU TINHA UM PRODUTO, PARA FINS PRÓPRIOS, O FAROL XENON, MAS ESTOU PROIBIDO DE USAR, É ILEGAL, É CRIME. MAS PORQUE, ENTÃO, A EMPRESA QUE ME VENDEU, OU A LOJA, NÃO FOI MULTADA OU PRESA? NÃO SERIAM ELES TRAFICANTES DE UM PRODUTO ILEGAL? ATÉ ONDE EU SEI, OS FARÓIS XENON SÃO PERMITIDOS APENAS EM CARROS IMPORTADOS, É NÃO É QUALQUER TIPO DE XENON QUE PODE SER LEGALIZADO JUNTO AO DETRAN, PARA CONSTAR NO DOCUMENTO DO VEÍCULO.
EIS O MEU DESABAFO. EU SEI QUE ESTOU ERRADO, MAS PORQUE O MACONHEIRO PODE USAR O SEU PRODUTO E EU NÃO POSSO USAR O MEU XENON? PORQUE O TRAFICANTE NÃO PODE VENDER O SEU PRODUTO ILEGAL E O DONO DA LOJA DE XENON, OU CONCESSIONÁRIA PODE VENDER O SEU PRODUTO TAMBÉM ILEGAL???
A RESPOSTA É SIMPLES: BRASIL.....

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 5

_Destruí-lo? _Perguntou. _Deveria fazê-lo por não ter matado Ismael como ordenei? Por não ter cumprido com o trato? Eu poderia fazê-lo facilmente, mas creio que já o fez, quando abdicou da chance que lhe proporcionei de se vingar do vampiro que o desgraçou! Quando rasgou e soprou ao vento a única razão de sua miserável existência. _Sorriu e, após uma breve pausa, continuou. _Isso o torna especial, isso o torna maravilhoso e intocável. A dor que carrega é pior que sua morte, e morrer seria um alívio. Sua complexidade me encanta, pois a vejo somente em poucos. Você deveria ser um de meus “filhos”, mas isso é impossível.

_Não entendo! _Raciocinei, embaraçado. _Suas palavras dizem que me contempla, mesmo sendo eu um de seus piores inimigos! Mesmo eu tendo, em minha renúncia de matar o Cavaleiro, impedido você de evitar a ascensão do cristianismo.

_Em que ponto me impediu? E que valia teve seu ato? Ismael tornou-se rei e levou o cristianismo para o coração de todos os homens, mas jamais se perguntou o “que” do cristianismo eles queriam. O “que” entenderiam. Quando cheguei, havia um berço de desejos distorcidos, eu apenas o arrumei. Se Ismael tivesse morrido, outra religião teria ascendido, e eu teria chegado da mesma forma. O mundo seria invariavelmente o mesmo.
Você não impediu nada, apenas adiou o inevitável.

_Mas dificultei seus planos! A morte de Ismael daria fim ao cristianismo e destruiria o que os vampiros mais temem.

_E onde está o cristianismo que temem? O que restou do original, do verdadeiro, do puro? Daquele que você conheceu? Onde está a palavra que conduz a Deus? Onde está a fé correta, que originou o Sagrado Pacto? _Falou, vindo a mim com passos tão leves que seriam inaudíveis para qualquer mortal. _O cristianismo é simples demais, e até hoje eles o complicam. Apenas uma palavra o define, apenas uma palavra é suficiente para derrubar igrejas, rasgar as páginas das Bíblias e acabar com as diferenças de credos, com as discórdias e as guerras do mundo. Mas eles não a encontraram e jamais a encontrarão justamente por sua simplicidade. Ficarão gerações infindáveis interpretando e discutindo os escritos. E em seus sutis e diferentes entendimentos, em pontos minúsculos e desprezíveis, encontrarão motivos para novas formas de adorar. Por isso, hoje, eu estou aqui, reinando sobre eles, porque há séculos buscam leituras, paredes e imagens, modos de vida rígidos e restritos, culpas e castigos onde originalmente nunca houve sequer a intenção para que existissem. E uma simples palavra pode me derrubar.

_Então, não foi o responsável por esta distorção?

_Não! Não mudei o pensamento dos homens nem o mundo à sua volta. Apenas tive a coragem para mostrar-lhes seus próprios sonhos. Não os empurrei, apenas os guiei. Mostrei a maçaneta, pois já estavam à frente dos portões a que aspiravam. Nunca desejaram o cristianismo verdadeiro, então, modelei-o para que se adaptasse aos seus anseios. Hoje, fazem-no a todo o momento, buscando uma perfeição que somente os torna mais imperfeitos. Dizimei os outros credos, dizimei as outras espécies, e eles bateram palmas. Acabei com a magia, ordenei o que deveriam ler. Denominei cidades, países e continentes. Reescrevi o passado, criei culturas, e não sentiram falta. Não nego que meu trabalho não tenha sido árduo. Ainda hoje, persigo paleontólogos que se deparam com fósseis de algum dragão e os silencio. Contos fantasiosos sobre elfos e anões são cada vez mais freqüentes e logo existirão como formas ricamente detalhadas de entretenimento. Cientistas descobrem cedo demais algo que não deveriam, assim como permito que divulguem conhecimentos que, há muito, já deveriam ter sido divulgados. Todos sabem o que é um vampiro, embora ninguém acredite.
Eu construí o mundo de hoje, mas fiz isso sobre seus próprios alicerces.


CONTINUA....

quinta-feira, 3 de março de 2011

ENTREVISTA RÁDIO TRANSAMÉRICA


BOM DIA PRA VOCÊ QUE ESTÁ ACOMPANHANDO O BLOG.
ESTA POSTAGEM É APENAS PARA COMUNICAR UMA ENTREVISTA QUE VOU REALIZAR NA RÁDIO TRANSAMÉRICA DE BALNEÁRIO, AMANHÃ, DIA 04/03/11, ÀS 07:40H. O TEMA, É CLARO, É O LIVRO O IMORTAL KALYMOR. SE VOCÊ PUDER ACOMPANHAR E DIVULGAR. A RÁDIO É 99,7 FM.
OBRIGADO.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 4

Fiquei completamente sem reação. Estagnado, preso em meu tormento. O vampiro vestia um roupão-de-banho azul-escuro, com detalhes formando filetes folhados a ouro. Estava totalmente à vontade e disse aquelas palavras com naturalidade, sem surpresa alguma com minha presença. Pelo contrário, parecia que já estava à minha espera, e isto me aterrorizou ainda mais. Novamente, eu estava na casa do primeiro vampiro do mundo e, novamente, sem defesa. Mais uma vez à mercê de qualquer vontade sua. O medo me tomou por inteiro, quando lembrei de nosso acordo, que certamente ele jamais esquecera. E imaginei o quanto me odiava.
 A peça que segurava em minhas mãos era magnífica, mas perdera toda sua importância ante aquela presença. Delicadamente soltei-a, como se fosse um cálice qualquer. Desprezei o artefato de maior valor histórico da humanidade para ater-me ao vampiro, que certamente não queria conversar sobre aquilo. Depois de uma última olhada para o objeto, fiquei de frente para o anfitrião e, com palavras fúteis, o máximo que meu terror permitia pensar em dizer, comecei. Sem saber ao certo o que dizer e tentando ferrenhamente não lhe passar o pavor que estava sentindo:

_Faz muitos anos!

_Mais de meio milênio! _Continuou, num tom agora intimidante. _Muito tempo, até para alguém como nós. _Concluiu e logo virou o rosto em direção a um aposento que ficava atrás de onde surgira. _Deixe-nos! _Falou, dirigindo-se ao jovem vampiro, que saiu das sombras ostentando um sorriso cínico, retirando-se do apartamento pela mesma porta que entrei.

_Jamais imaginei encontrá-lo aqui! _Falei, ainda abalado.

_Não me encontraria, caso eu não permitisse! Se eu não desejasse. Mas a recíproca não é verdadeira. Eu sempre soube de seus passos.

Pensei no quão verdadeira deveria ser aquela afirmação. E em minha total e irremediável insignificância. Malberon era o primeiro vampiro a caminhar pela Terra, o mais poderoso e sábio. Sua influência era tamanha que havia modificado o próprio mundo à sua vontade. O que eu poderia fazer? O que eu era perto dele? Inegavelmente, aquele encontro serviria para me mostrar que eu não passava de um peão, mesmo não tendo conhecimento real de qual jogo participava. Até o jogo em si deveria ser muito maior do que eu. Então compreendi, naquele instante, que de alguma forma minha presença fora solicitada. E, se assim foi, era porque eu não mais tinha valor.

_Devo concluir, então, que meu momento chegou? _Falei, convicto de minha morte definitiva.


CONTINUA...

terça-feira, 1 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 3


Obviamente não retornei às escadarias para deixar o prédio, confiei cegamente em meu julgamento, mesmo porque era incoerente negá-lo devido a um espectro ocasional, que eu nem ao menos sabia por que me seguia por tanto tempo. E também não poderia abandonar o vampiro, agora que sabia de seu antro.
Ignorando o menino, me aproximei da porta. Poucos trincos me traziam alguma dificuldade. Destravei-o furtivamente e me deparei com uma sala que, na verdade, era um enorme aposento, com finas delimitações entre um cômodo e outro. Tinha um padrão rústico, com tons amarronzados nas paredes e móveis antigos. Nos cantos, estátuas de muitas culturas dividiam lugar com armaduras medievais. As divisórias eram poucas e serviam mais para sustentar estantes com artefatos e objetos inúmeros de marfim ou outro material. Cortinas transparentes desciam do teto e formavam uma decoração que lembrava muito a casa de um sultão. Almofadas vermelhas se amontoavam ao redor de diversas camas espalhadas pelo chão. O ambiente inteiro era iluminado fracamente por velas, em belíssimos e bem trabalhados castiçais. Nada, no local, combinava com o estilo que o jovem ostentava, pois trajava roupas próprias para sua idade aparente, com calça rasgada e jaqueta surrada pelo tempo de uso. Aquela, certamente, não deveria ser sua morada, mas constatei que era a de um vampiro e, provavelmente, de um antigo, a julgar pelos pertences. E por grossas e pesadas cortinas que ocultavam as janelas, não condizentes com o estilo da época.
Agora, sim, eu havia ficado um pouco inquieto. Inevitavelmente pensei no pequeno Doug, mas eu já estava ali dentro. Somente poderia manter-me firme, aguardando algum acontecimento. Apenas observando todos os detalhes.
Havia, em uma estante, quase no centro da sala, um objeto velho e desgastado. Parecia um cálice, mas não era de maneira alguma valioso ou sequer belo. Constatei ser muito antigo e, somente por isso, atentei meus olhos. Em cima da estante, ao redor dele, havia diversos mantos e páginas soltas com dizeres em dialetos já esquecidos. Aproximei-me, tomado de uma curiosidade estranha, desejando com afinco saber de que se tratava. Tomei o objeto em minhas mãos, num resquício de instinto humano, como se ainda pudesse contar com o auxílio do tato para identificar algo através da análise de sua textura, peso e outras peculiaridades. E no exato momento em que notei o que era, uma voz tomou o ambiente. Uma voz conhecida, que eu temia um dia reencontrar:

_O Santo Graal! A peça genuína, tenha certeza. _Falou, calmamente... Malberon!


CONTINUA...