sexta-feira, 11 de março de 2011

O Imortal Kalymor: DEUS, POR MALBERON. INTERLÚDIOS, PARTE 6

Aquilo era uma verdade incontestável. Relembrei todos os anos de minha existência e de como acompanhei o desenrolar da fé. Vi, naquela noite, que ela se afastava a saltos largos da que eu conhecera, quando ainda tinha vida correndo em meu corpo e antes da perda de Marina, nos dias de minha tribo. Aquela fé era simples e fácil, e todos faziam questão de que assim fosse. Todos acreditavam sem contestar e seguiam somente a palavra. Mesmo nas pregações, nunca houve intenção de atrair novos adeptos, mas sim, de propagar a palavra para aqueles que cultuavam qualquer outra coisa ou que não cultuavam nada. Tão simples que não deixava espaço para preconceitos ou interpretações errôneas. Permitia a todos viverem em paz. Estabelecia a felicidade. E refleti em como aquela fé era diferente de todas as outras existentes.
Interrompendo meu pensamento, à minha frente Malberon se colocou, esticando uma das mãos e tocando minha face, numa espécie e carícia satânica. Seus olhos fixaram os meus e me paralisaram por completo, como se algum encanto me ameaçasse. Certamente não havia nenhum, a reação provinha de mim mesmo, e me senti como uma criança no escuro de um quarto, numa casa vazia, recebendo, na madrugada relampejante, a visita do demônio.



_Seu ódio o trouxe a mim! _Disse o vampiro. _Sua busca incessante. Eu sou o começo de tudo e o fim de sua caminhada. O último duelo! Mas isso não acontecerá, nem agora nem nunca. Você não está pronto.

_Faltam-me respostas! Diversos entendimentos! Mas tê-los o ameaçaria.

_Então, saiba o que perguntar! _Falou, retirando a mão de meu rosto. _Venha, deixe-me que lhe mostre meu lar.

O vampiro segurou um de meus braços como se fôssemos parentes. Fiquei um pouco constrangido, ainda não havia me acostumado com a proximidade de um vampiro, ainda mais um tão poderoso, que tinha motivos de sobra para me destruir. Mesmo assim, daquela maneira estranha, seguimos por sua casa, atravessando os aposentos sutilmente divididos e subindo lances de escadas que levavam a outros andares do prédio, mas que faziam parte daquele apartamento. Não compreendia a razão dele querer me mostrar seu covil e, certamente, alguns de seus segredos. Talvez um ritual, ou uma brincadeira macabra, para me conduzir a um lugar onde eu teria uma morte mais “elaborada”. Independente do motivo, eu nada poderia fazer senão segui-lo. A única escolha de minha alma perdida. Então, para quebrar o gelo do momento, perguntei:

_E quanto ao Sagrado Pacto? Sempre ouvi rumores, mas nunca soube realmente o que é!


CONTINUA.....

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