sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O ARTESÃO- Interlúdios, parte 6





O homem no chão fica perplexo. Percebi que havia parado com seu trabalho, enquanto eu recordava essa passagem de minha anterior vida humana. O jovem vampiro, segurando o note book, quase fica boquiaberto. Mesmo para ele, em sua recente condição imortal, ainda é difícil compreender certos aspectos de nosso mundo. Deve estar pensando em como será seu mundo, daqui a 200 anos, e em como irá relatar, aos próximos vampiros que encontrar, como era o mundo de hoje. Como irá relatar como foi sua transformação. O seu último dia de Sol, o dia mais importante.
Mas, não é tempo para essas reflexões. Tenho que me concentrar no meu trabalho. Em observar novamente o corredor e os escritos no livro, para tentar encontrar a falha. Se houver alguma. O erro que fez com que faltasse uma cúpula. Deixo, então, os passos me guiarem pelo corredor, deslizando como pincéis retocando o quadro da história. E as cúpulas vão revelando aos meus olhos as espécies, cada qual com suas distintas peculiaridades.
As horas, então, voam. Analiso cada minúcia de cada cúpula como um astrônomo visualiza as estrelas. Góblin, centauro, minotauro, anão, elfo, kobold, ogro. Outras espécies foram encontradas apenas deste lado do mundo, no mundo novo. Como um ser de pele lisa e negra, braços compridos e mãos ásperas que escorriam um fluido pegajoso, que os auxiliavam a andar por entre os galhos das densas florestas, visto que tinham somente um único membro inferior. Cultivados aqui nas lendas do “saci”. Em outra cúpula vejo as belas mulheres do mar, com aparência mais bela que a mais bela das humanas. E com a parte inferior do corpo coberto por escamas, que se continuavam até formarem uma nadadeira. Cultivadas, aqui, nas lendas, como sereias. Mais um passo adiante, contemplo um ser similar ao ogro, porém, que vivia somente em terras gélidas, com o corpo recoberto por diversas camadas de pêlos e com os pés desproporcionalmente grandes. Que lhes deu a origem do nome “Pé-grande”.
Em outro cômodo, um imenso cômodo, estão agrupados, um de cada exemplar, diversos tipos de dragões. Porém, não vou percorrer aquele. Sei que estão todos ali, menos um. Malberon não possui um Deus-Dragão. O último foi extinto na batalha de maior importância na história deste planeta. Morto pelo Cavaleiro do Fogo Ismael e seu grupo, em Nostrades, a capital do reino de Yarkan. Claro que eu não vivia naquela época. Isso ocorreu séculos antes de meu nascimento.

_Minha revisão, então, foi concluída! _Digo ao jovem vampiro. _Não encontrei nenhuma falha, tanto no livro como nas cúpulas. A coleção permanece tal qual como eu havia deixado.

Então, um medo crescente se apossou de mim. O medo da dúvida, da incerteza.

_O que está faltando? _Questiono em voz alta, como se o jovem pudesse me responder. _E meu medo me tomou por completo quando, de surpresa, o homem sentado à frente da recém terminada nova cúpula se pronunciou, erguendo um pequeno objeto com ambas as mãos:

_Onde eu fixo esta placa? _Falou, mostrando para mim o objeto. Que me feriu os olhos como se fosse um crucifixo ostentado pelo mais crente dos cristãos.
O vampiro notou meu estado perplexo. E questionou.

_O que diz a placa?

Estava escrito em um antigo dialeto élfico. Ele jamais entenderia. Então, leio em voz alta e pausadamente:

_Ali diz... vampiro!

Concluo, então, minha observação. Perturbado, pois... estaria nossa espécie, também, condenada a extinção?






 
TERMINA AQUI MAIS UMA HISTÓRIA DE "INTERLÚDIOS", QUE CONTA FATOS PARALELOS AO LIVRO O IMORTAL KALYMOR. 
AGUARDEM NOVAS HISTÓRIAS. PROCUREM PELAS ANTERIORES NAS OUTRAS PÁGINAS DESTE BLOG, NAS POSTAGENS MAIS ANTIGAS. 

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