sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O Imortal Kalymor: Interlúdios. Parte 5 da Crônica: A Catedral.




“Ele a segurava pelos cabelos com uma das mãos. Enquanto a outra alisava seu pescoço, retirando delicadamente uns poucos fios que ali restavam, como numa espécie de ritual. Eu não sabia o que fazer. Correr em sua direção me parecia a atitude mais óbvia, mas o vampiro poderia atacá-la ao ver minha aproximação. Por outro lado, ele poderia atacá-la a qualquer momento, já que ninguém o ameaçava. O que fazer? Que reação tomar perante essa situação? Enquanto eu corria, amaldiçoando minhas pernas por não poderem fazer mais, por não serem mais rápidas. Enquanto eu olhava o rosto de Marina, enquanto eu era dominado pela sensação de incapacidade. Enquanto percebia que de nada valiam as súplicas, ele, num rápido movimento, expondo seus enormes dentes caninos, a mordeu.”

Eis o início de sua dor. O começo de seus sórdidos pecados. Sua queda. Sua esposa não apenas morta, mas transformada. Convertida na mesma forma bizarra que o monstro que a atacou. Situação esta ainda mais terrível. Pois, como todo monstro, não poderia ser aceita ali. E a morte veio mais uma vez para ela. Conseqüentemente também para ele...

“_Marina, _comecei _olhe nos meus olhos. Veja bem fundo, e somente eles. Quero que, não importa o que aconteça, acredite em mim. Saiba que tudo isso não passou de um sonho. Um terrível pesadelo, e somente eu estou aqui.
_Nós morremos, não foi? Morremos, e nossos espíritos estão se despedindo. Não sei o que está acontecendo, mas acho que faço alguma idéia. Não sei se eu morri, ou se morremos ambos. Apenas sei que algo não está bom. E acho que tenho que falar algumas palavras. Você foi a coisa mais maravilhosa que me aconteceu. O homem da minha vida. Quem sempre sonhei para seguir ao meu lado. Sou grata a Deus por ter me concedido esta oportunidade. Sou a mulher mais completa deste mundo, pois tenho o mais verdadeiro dos amores. Desculpe se fui a culpada disso que ocorreu. Mas obrigada por estar comigo numa hora como esta. E em todas as outras que você esteve. Para onde quer que nossas almas possam ir, por mais distantes que fiquem, eu sempre vou amar você, meu querido Hans Kalymor!
_Há um pequeno espaço no tempo. Uma brecha onde não estamos totalmente vivos nem totalmente mortos. Um pedaço em que nos esquecemos de viver e não nos lembramos de morrer... é quando dormimos. Será lá, Marina, nesse intervalo de vida, quando acordo para os meus sonhos e durmo para minha existência, que estarei te esperando!”
 
Os primeiros raios de sol da manhã a destruíram. Em seus braços ela se foi, como em uma lufada de vento. E ele se perdeu no abismo de sua própria amargura.





CONTINUA.....

Nenhum comentário:

Postar um comentário